"A vida cristã não é resultado da escolha do cristão, e sim sua resposta ao fato de que Deus o escolheu" (James M. Houston)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Reflexão: Atos 20.27, 28



Paulo não era o tipo de apóstolo que negociava a mensagem ou a ajustava de acordo como os interesses daqueles aquém pregava. Seu comprometimento com o evangelho não lhe permitia abrir mão de toda mensagem, ainda que a mesma contrariasse os anseios de muitos.
Ele não apenas era fiel na proclamação do evangelho, como também aconselhava seus irmãos (cooperadores) a fazerem o mesmo. Isto fica evidente em vários trechos dos seus escritos (ver 1 Tm 4.11-16, Tt 2). Aos obreiros de Éfeso, ele faz questão de destacar:
1.                  Seu compromisso com a pregação (v. 27). É evidente que não se tratava de simples discursos sobre temas relevantes, boa oratória ou sabedoria humana. Paulo estava sujeito ao Senhorio daquele que o chamou para anunciar o evangelho e lhe revelou Sua vontade (ver Gl 1.11-24).
1.1. Seus companheiros de caminhada sabiam que sua pregação era integral (v. 27) . O evangelho deve ser compartilhado de maneira responsável e completa. Cabe àqueles que anunciam serem moldados a ele, e não tentarem moldá-lo aos seus próprios caprichos.
1.2.  A Igreja em sua caminhada diária deve anunciar “toda vontade de Deus”. É isto que faz diferença na vida das pessoas e desperta os eleitos do Senhor para se arrependerem dos seus pecados (ver Rm 1.16). O centro do evangelho é Deus e sua soberana vontade. É isso que nos convém proclamar. A Palavra do Senhor expressa toda a sua vontade soberana e imutável.
1.3. Se o que anunciamos não tiver a soberania divina como base, podemos afirmar que não se trata do evangelho de Jesus Cristo (ver Gl 1.6.10).

2.      Preocupação com seus companheiros de caminhada (v.28). A verdadeira igreja é aquela na qual os irmãos demonstram interesse uns pelos outros. Nela, a comunhão não se fundamenta em programas, retiros ou frases de efeito; mas na caminhada juntos.
2.1. “Cuidem de vocês mesmos...” (v. 28). Eis o ponto de partida para sermos instrumentos divinos na vida dos nossos irmãos. Devemos cuidar de nós mesmos. Isso não se trata de egoísmo, mas de amor próprio, pois só é possível cumpri cabalmente o segundo grande mandamento se: “ama a teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.31).
O cuidado pessoal implica em cuidado com a saúde física, famíliar, profissional, etc. No sentido de sermos bênçãos na vida de outros, diz respeito em nos sujeitarmos a vontade de Deus (ver 1 Tm 4.16).
2.2. “... e de todo rebanho sobre o qual o espírito os colocou como bispos...” (v.28). Aqueles que “cuidam de si mesmos” devem cuidar dos outros. Quando somos irmãos maduros (presbíteros/aciãos), o Senhor nos coloca como exemplo para outros irmãos, a fim de cooperamos com eles para edificação. Não há imposição, nem hierarquias humanas nesta questão, pois o que ocorre é fruto da graça divina na vida daqueles que ele atraiu para si.
2.3. “... para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com seu próprio sangue” (v.28). Os méritos são todos do Senhor! A Igreja é Sua. Nós somos dele. Se cuidamos (“pastoreamos”) de alguém é porque ele nos colocou e capacitou como cuidadores (pastores). Isto não nos torna superiores a ninguém, pois se trata de um chamado para servir ao Senhor e a sua Igreja (corpo/irmãos). Também não é um “preço a ser pago”, pois tudo ele pagou com o “derramando seu próprio sangue”.

Voltemos ao evangelho e sua simplicidade. Tomando o exemplo de Jesus e os apóstolos como referencias para a nossa caminha diária. Imitando-os, conheceremos melhor “toda vontade de Deus” e a proclamaremos com responsabilidade, cuidando de nós mesmos e dos irmãos que partilham conosco.

Paz!

Riva


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Reflexão: Atos 16.6- 10




A proclamação do evangelho é um trabalho divino, para o qual o Senhor nos convoca. A execução do mesmo decorre do novo nascimento, e da plena sujeição a sua vontade soberana. É isso que percebemos nas peregrinações de Paulo e seus amigos: “Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frígida e da Galácia...” (v. 6).

1. Na caminhada do evangelho a direção vem sempre de Deus (v. 6, 7). Contrariando a tendência humana (principalmente a dos “evangelistas” institucionais), a orientação do Senhor pode ser nos impedir de irmos a determinados lugares e fazermos certas coisas; mesmo que intenção seja “pregar” o evangelho: “... tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia” (v. 5).
1.1. Nossas intenções por “melhores” que sejam, podem estar desconexas com a vontade do Deus soberano.
1.2. Não temos maiores detalhes a respeito do como o Espírito os “impediu”, o fato é que eles entenderam a direção divina, e seguiram em outra direção. Isto expressa sensibilidade de Paulo e seus companheiros em fazer a vontade de Deus, e não satisfazer seus próprios desejos.

2. O Espírito não perguntou se Paulo e seus amigos queriam ou não pregar o evangelho naquelas cidades; simplesmente os “impediu de pregar” (v. 7). Deus não é governado por nossos anseios, nem muda sua vontade por nossa causa. Ele apenas nos molda para cumprirmos seus propósitos eternos.
2.1. Paulo e seus amigos não ficaram tristes, nem contrariados com o “impedimento imposto pelo Espírito”, mas, aceitaram a direção e seguiram a jornada pela fé.
2.2. Como discípulos, devemos seguir o modelo do Mestre (ver Mt 26.42).

3. Assim como os “impediu”, o Espírito também lhes deu clara direção para a sequência da caminhada na missão (v. 9, 10). A orientação divina pode ser sim ou não, dependendo do seu próprio querer.
3.1. Os meios que Deus usa para nos dirigir na sua vontade, são diversos: “... Paulo teve uma visa...” (v. 9). O mais importante é compreendermos o teor da mensagem e discernirmos com clareza o que a mesma está nos dizendo.
3.2. A melhor resposta ao chamado divino é sempre seguir na direção que ele nos dá: “Depois que Paulo teve essa visão, preparamo-nos imediatamente para partir para a Macedônia” (v.9).
3.3. Quando seguimos sob a direção do Senhor, os resultados sempre O glorificarão, por meio do alcance daqueles que ele escolheu para si.

Basta aos eleitos de Deus se submeterem à sua vontade. Não nos convém seguir qualquer outra direção. O senhor pode tanto nos “impedir” com nos impelir a cumprirmos seu querer. É neste caminho que devemos andar como Igreja do Senhor, ouvindo sua voz e obedecendo. O Espírito sempre nos guiará na vontade do Pai (ver Jo 16.13).

Sigamos sob a orientação do Soberano!

Riva

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Reflexão: Atos 15



O corpo de Cristo (Igreja) é formado por pessoas, e revela em sua expressão vivencial, questões inerentes à existência humana em comunidade. Portanto, ficam evidentes erros e acertos, e o surgimento de temas que requerem avaliações e posicionamentos centrados e maduros.
Com a chegada do evangelho aos gentios surgiram conflitos com os judaizantes e suas praticas. Tais questões exigiam avaliações e posicionamentos equilibrados por parte da Igreja. Notemos algumas questões que podem nos auxiliar em momentos de avaliação e resolução de conflitos na caminhada comunitária.

1. Na comunhão dos irmãos (Igreja) os conflitos, desvios doutrinários e outros problemas devem ser reconhecidos e tratados com seriedade (v. 1, 5, 24).
1.1. Paulo e Barnabé se posicionaram com firmeza em oposição ao pensamento daqueles que queriam impor a lei sobre os gentios (v. 2). Identificado o problema agiram com prudência e sabedoria.

2. A resolução de conflitos no contexto da Igreja (organismo) deve ser uma tarefa coletiva (v. 2- 4, 6, 7, 12, 13, 22, 23, 25- 31). Fica claro que embora houvesse irmãos mais maduros (“apóstolos” e “presbíteros”), não havia da parte destes nenhuma imposição ou domínio sobre os demais. Sabiamente eles buscam consenso na coletividade.
2.1. Havia liberdade de expressão. Cada um, de acordo com seu dom e maturidade poderia expressar sua opinião sobre o tema em foco (observe quantas pessoas falaram).
2.2. Toda opinião ou sugestão de quem quer que fosse era submetida ao crivo da coletividade, e desta saia o posicionamento final (v. 22, 25, 31). Este é um dos principais sinais de maturidade e equilibrio na caminha da Igreja.
2.3. Os irmãos mais maduros (“apóstolos” e “presbíteros”) eram ouvidos com atenção (v. 12). A assembleia os reconhecia como conselheiros experientes e comprometidos com a Palavra de Deus, mas não infalíveis (eram homens como os demais).
3. Toda e qualquer palavra ou decisão eram devidamente fundamentadas nas Escrituras (v. 15- 17). É fundamental que a comunidade se apegue aos princípios bíblicos na analise e resposta a qualquer tipo de conflito.

4. O que foi definido em consenso deve ser compartilhado claramente com todos (v. 22- 31). Se os assuntos são tratados coletivamente, e as decisões voltadas para o coletivo é fundamental que todos fiquem cientes dos mesmos. Quando há clareza, não há o que esconder!

À medida que a Igreja crescia e avançava no cumprimento da missão, surgiam novos desafios internos e externos. O mesmo ocorre na atualidade. Convém considerarmos exemplos como este de Atos 15, e assim, caminharmos como corpo de Cristo.
Saudações aos eleitos!

Riva

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O QUE FAZER?




“Portanto, que diremos, irmãos? Quando vocês se reúnem, cada um de vocês tem um salmo, ou uma palavra de instrução, uma revelação, uma palavra em língua ou uma interpretação. Tudo seja feito para a edificação da igreja.”
(1 Co 14.26 – NVI)

Ser Igreja do ponto de vista da sua manifestação publica, implica na reunião dos eleitos, a fim de adorarem a Deus coletivamente. Nesta coletividade os irmãos se manifestam de maneira orgânica, conforme a graça que o Soberano dispensou sobre cada um. Por ser tratar de encontros de pessoas diferentes, em contextos diversos; faz-se necessário um entendimento claro a respeito dos elementos norteadores destes ajuntamentos. 
A realidade vivenciada nas reuniões da Igreja em Corinto nos apresenta um pano de fundo apropriado para o desenvolvimento da presente reflexão. Ali, havia grande diversidade de manifestações, muitas das quais extrapolavam os limites de um clima saudável e edificante. Não faltavam exageros, meninices e tantas outras demonstrações de imaturidade e desequilíbrio. Fatos que se tornavam evidentes principalmente nas reuniões da Igreja (corpo).
Neste cenário, Paulo foca algumas questões, com o propósito de dar leveza e sentido orgânico aos encontros da coletividade. Alguns deles merecem nossa atenção, pois se aplicam perfeitamente à nossa realidade como Igreja.

Primeiro foco: A reunião. “Quando vocês se reúnem...” A Igreja é formada pelos eleitos entregues pelo Pai aos cuidados de Jesus (Jo 6.44; 17.6). Quando os tais se reúnem, a Igreja se manifesta de maneira visível diante dos homens. Embora sejamos individualmente membros do Corpo de Cristo, necessitamos nos reunir uns com os outros para o crescimento mutuo. Os encontros nos convidam a romper as barreiras do exclusivismo e isolamento.
Na perspectiva paulina o foco está na reunião, no ajuntamento dos eleitos, independentemente do dia, local ou horário. O que realmente importa e faz toda diferença é estarmos juntos em adoração. Paulo não estava preocupado em dar uma formatação institucional para os encontros da Igreja, definindo coisas como tempo de duração ou cerimonial litúrgico. O importante para ele era o fato dos irmãos estarem reunidos partilhando uns com os outros.

Segundo foco: Pessoas. “... cada um de vocês...” Os encontros da Igreja no primeiro século eram marcados pela valorização das pessoas que a formavam, e se manifestavam como suas singularidades. Embora o foco fosse pessoal, os indivíduos não eram vistos como meros números, nem mesmo com instrumentos de manipulação ou contribuição. Havia respeito entre os eleitos de Deus.
A cada dia eles se inteiravam melhor acerca dos ensinos de Jesus, e compreendiam que eram todos iguais diante de Deus. Paulo destaca “cada um” como parte importante do encontro, incentivando-os à participação efetiva. Todavia, fica evidente que ninguém era coagido a participar, falar ou fazer coisas do tipo. O desafio era despertar a espontaneidade. A beleza estava na manifestação da coletividade, como bem descreve o texto de 1 Co 12.12-31.
Convém salientar que Paulo estava instruindo os irmãos de Corinto a serem mais orgânicos na maneira como se reuniam como Igreja. As dificuldades enfrentadas nas reuniões são as mesmas vivenciadas em qualquer contexto onde pessoas se encontrem. Por isso as orientações paulinas são tão relevantes.

Terceiro foco: Diversidade “...cada um de vocês tem um salmo, ou uma palavra de instrução, uma revelação, uma palavra em língua ou uma interpretação...” A continuação do texto nos mostra que não bastava apenas a Igreja estar reunida, e os irmãos reconhecendo e respeitando individualmente uns aos outros como pessoas. Cada um devia contribuir com base na capacitação recebida. Todos poderiam fazê-lo, sem discriminação. É justamente essa mutualidade que evidencia uma das principais características da Igreja de Jesus. 
Paulo coloca “cada um” como co-responsável pela participação ativa no desenvolvimento do encontro. Não havia hierarquia, nem mesmo destaque deste ou daquele dom. Todos eram irmãos igualmente ungidos pelo Espírito e deveriam cooperar conforme a graça recebida. Fica evidente que tal expressão tonar-se muito difícil (para não dizer impossível) no contexto da instituição chamada igreja.
A estrutura institucional é profundamente apegada ao desenvolvimento de hierarquias e cargos, privilegiando a participação de uns poucos “ungidos”, em detrimento da passividade da grande maioria. Na igreja orgânica os encontros devem ser participativos, fundamentados na pessoa de Cristo e no pleno exercício dos dons espirituais. Não deve haver espaço para personalismos, holofotes ou coisas semelhantes. No corpo todos os membros são importes para o bem comum (1 Pe 4.10).

Quarto foco: Edificação “...Tudo seja feito para a edificação da igreja.” Aqui está razão de ser das reuniões da Igreja. As pessoas se encontram para edificarem umas às outras, e por meio disto glorificam a Deus. O que faz toda diferença é o que as motiva. Sem a motivação correta, qualquer ajuntamento não passará de mais um ajuntamento. Quando a Igreja se reúne valorizando as pessoas, respeitando as diferenças, celebrando a mutualidade nas manifestações, o resultado será a edificação do corpo.
A Igreja é edificada pelo Senhor que se manifesta por meio dos dons distribuídos entre os eleitos. Não se trata de programas ensaiados (estilo teatro), mas de atitudes espontâneas daqueles que pela graça divina são capacitados e convivem com os demais membros da Igreja (corpo). 

Sigamos o foco paulino. Aceitemos o desafio de ser Igreja sem as formalidades institucionais, mas com o foco centrado naquilo que realmente glorifica a Deus. Lembremos que nosso alvo é a edificação mutua.
Aos eleitos que assim como eu tentam viver no caminho do Evangelho de Jesus, sendo partes da sua Igreja.

Riva

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

SIMPATIA



“... e tendo a simpatia de todo o povo...” (At 2.47 - NVI)

Quando leio esse texto, atento para o contraste que o mesmo lança diante dos meus olhos. Jerusalém se agitava com o crescente número de pessoas professando a fé em Cristo, e passando a viver em torno de elementos estranhos à maioria: palavra, oração, comunhão, partir do pão (At 2.42). Tais fatores demonstravam a grande ruptura com o modelo religioso proposto pelo judaísmo. Entre os primeiros cristãos se manifestava um forte senso de comunidade, a adoração na vida e o pertencer uns aos outros.
Face a tantas e contundentes transformações, o que se percebia era o impacto que o novo estilo de vida causava naquela sociedade. Embora muitos rejeitassem o Cristo, e negassem tais manifestações como sendo verídicas; eram simpáticos com a maneira como os cristãos viviam. Que diferença com a realidade dos nossos dias! Enquanto o cristianismo primitivo era relevante e simpático à sociedade, na atualidade os denominados “cristãos” (sobretudo os evangélicos) na sua maioria parecem celebrar a antipatia. Seria esta uma das causas principais da irrelevância da chamada “igreja”?
Consideremos algumas características que tornavam os primeiros cristãos “simpáticos de todo o povo”:
Continuavam sendo gente. A conversão ao evangelho de Jesus Cristo não afetava a essência humana daquelas pessoas. Não lhes dava uma formatação diferente, a ponto de se distanciarem daqueles com os quais conviviam. Não rompiam suas amizades, promovendo a falsa separação entre “salvos e ímpios”. Não mudavam a maneira de falar (algo comum na atualidade), pois não havia o tal “evangeliques”. Pelo contrario, o que observamos em Atos dos Apóstolos e no histórico dos primeiros anos da caminhada cristã, é a efetiva participação dos cristãos na vida da cidade, enfrentando e respondendo às suas demandas.
O evangelho que propõe afastamento das praticas pecaminosas, não impõe barreiras separatistas entre cristãos e não cristãos. Não estabelece a “criação” de dois mundos (o dos crentes e o dos descrentes). A encarnação de Jesus aponta para a relação com os pares e a caminhada entre os mesmos. Trata-se de um modelo próximo das pessoas, integrado com a realidade vivenciada por elas.
O grande desafio é sermos que somos, caminharmos por onde caminhamos, convivermos com as pessoas próximas, em família, no trabalho e em todos os lugares. Como nos instrui Paulo: “Façam tudo para a gloria de Deus” (1 Co 10.31).
Viviam a igreja comunitária. Aqueles cristãos mantinham os vínculos entre si e a forte conexão com a comunidade, reunindo-se em grupos a partir das relações desenvolvidas ao longo da vida. Não construíam prédios, nem se distanciavam da realidade dos familiares e amigos. A igreja era comunitária, sensível às demandas daqueles que a constituíam e simpática.
É importante salientarmos que o fato de contarem com a “simpatia de todos” não significava o comprometimento da mensagem. Tal simpatia decorria do testemunho de cada cristão e da comunidade. Não havia programas, nem estratégias de marketing para torná-los atraentes. Era graça divina. Algo que fluía da vida.
Fica evidente que expressão orgânica da igreja, não apenas manifesta o real sentido da ecclesia, como também aproxima das pessoas. Nela, todos expressam suas virtudes e dilemas, buscando fortalecimento mutuo. A simplicidade e profundidade do evangelho manifestos na expressão não institucionalizada da Igreja glorifica ao Senhor e manifesta sua soberana vontade aos homens.
Eram diferentes pela diferença que o evangelho fazia, e não por imposição ou regras religiosas. É inegável que o evangelho produz profundas mudanças naqueles que nele creem (Rm 1.16). As mesmas fluem do nosso interior e se manifestam por meios de atos de justiça. Não se trata de mudanças decorrentes de meras praticas destes ou daqueles princípios religiosos. A história nos mostra que a simples religiosidade pode maquiar as aparências exteriores, sem gerar nenhum tipo de impacto na nossa inclinação perversa, aos moldes dos “sepulcros caiados”, descritos por Jesus.
O que havia de diferente e impactante na vida dos primeiros cristãos era a diferença que a mensagem do evangelho propagado pelos apóstolos, estava produzindo em seus corações. Isto lhes tornava pessoas livres da escravidão religiosa, com seus muitos preceitos e praticas. Não eram meros religiosos, e sim discípulos, adoradores inclinados a viver para a gloria de Deus. Era este estilo de vida não religioso que despertava a “simpatia de todo o povo”.
O evangelho não é cara feia ou rabugice, e sim, um chamado à verdadeira alegria. Nele encontramos razões para viver como Paulo: “... Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstancia...” (Fp 4.11). A alegria no evangelho independe das circunstancias, e isso faz diferença no ambiente onde estamos inseridos.
A graça divina manifesta na vida dos eleitos impulsionava os mesmos a viverem com base nos valores do evangelho. Por meio dela o Soberano gerava simpatia no coração do povo. Isto servia como testemunho e, “... E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos”  (At 2.47).
Cabe a nós seguirmos o bom exemplo da igreja primitiva, encarando os desafios inerentes ao ser gente, viver como Igreja e manifestar a nova vida que o evangelho gera a partir do nosso interior. Questões bastante complexas para pecadores como nós.

Aos eleitos, com carinho!

Riva 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

REPENSANDO A MÚSICA




Em meio a tantas transformações decorrentes de reflexões e posicionamentos assumidos nos últimos tempos, poucos são os temas ausentes desse remanejamento de ideias e atitudes. Entre eles, a música é uma das questões mais serias a serem consideradas, principalmente pelo fato da musicalidade fazer parte da nossa vida.
Durante longos anos de convencia no meio institucional evangélico a música sempre tratada como: “sacra” (“da igreja”) e “profana” (“do mundo”), sendo assim, criou a falsa ideia que as canções ligadas ao primeiro grupo, independentemente da letra, sempre expressam louvor a Deus; e as ditas “do mundo”, mesmo que transmitam mensagens saudáveis, acabam taxadas de “diabólicas”, e impróprias para os crentes. Isto é tão serio que para a maioria dos crentes ouvir qualquer música fora do gueto religioso é considerado pecado.
Mas afinal, é correto pensarmos desta maneira? Será a questão musical deve ser dividida conforme descrito no parágrafo anterior? A Bíblia apresenta alguma base para esse tipo de dualismo? Convenhamos, não necessitamos de grande empenho para constarmos que a musicalidade bíblica é profundamente sensível à realidade das pessoas, expressando as questões do cotidiano cultural em foco nas composições. O que vemos é uma grande variação de temas e estilos, incorporando vários elementos da vida. O fato é que não percebemos nenhuma divisão entre essa ou aquela musica. Cada grupo ou pessoa cantava aquilo que considerava apropriado, sem se preocupar com a origem do cântico.
A música é uma expressão artística, como tantas outras. Há grande diversidade de estilos e ritmos musicais, e cada pessoa e cultura tende a eleger os seus prediletos. O fato de gostarmos deste ou daquele, não torna o outro de menor ou maior valor. Trata-se apenas de uma questão de gosto de cada um.  Consideremos então a possibilidade de dividirmos a questão musical em duas partes: música boa e música ruim.
Em particular, considero boa música, aquela cuja letra expressa valores saudáveis que não firam os princípios centrais do evangelho. Não gosto de todos os ritmos, apenas os seleciono de acordo com o momento. Reconheço aquilo que considero boa música, pode não ser boa para outros. Aprecio a musicalidade como expressão cultural, poesia e manifestação de sentimentos diversos. Boa música é aquela que faz bem aos meus ouvidos, não fere a minha consciência e não propaga conceitos equivocados sobre Deus e a vida.
Tenho grande dificuldade em ouvir canções que embora citem o nome de Deus, transmitem mensagens contrarias as verdades expressas nas Escrituras. Definitivamente não gosto da música chamada “cristã”. Primeiro, porque não encontro em Cristo nenhuma definição do que poderia ser sua música predileta; segundo, por considera na sua maioria desconexa com a realidade das pessoas e culturas a sua volta. Em larga escala, trata-se uma música difusora de linguagens e conceitos restritos ao gueto institucional evangélico, centrada em si mesma, e de pouco relevância para o mundo.
Do mesmo modo também há muito lixo musical fora do meio evangélico. Canções que propagam conceitos equivocados sobre a vida e as pessoas. Por isso, sugiro a seguinte reflexão  para uma simples avaliação e escolha do que ouvir:
  1. Considere atentamente a letra. Veja se a mesma não fere princípios éticos e morais fundados nos valores centrais do evangelho de Jesus.
  2. Não defina uma musica como boa ou ruim pela a simples citação ou ausência de termos relacionados a Deus e a Bíblia.
  3. Ponha o foco na letra, na poesia; e não no interprete (cantor).
  4. Não se prenda a este ou aquele ritmo.

Grande abraço,
Viva a música!

Riva

segunda-feira, 15 de julho de 2013

CONTRIBUIÇÕES



      Em minhas andanças pelas vias fora da instituição igreja, me deparo com as mais diversas pessoas e situações. Muitas são as oportunidades de aprendizado, desenvolvimento de ideias e ações práticas, no sentido de clarificar o entendimento a respeito de temas comuns àqueles que, buscam trilhar o caminho do evangelho de Jesus Cristo.
      Os temas mais frequentes estão diretamente ligados às contribuições financeiras, principalmente no que se refere a pratica dos “famosos” dízimos. Os questionamentos da maioria dizem respeito à maneira como são feitos os apelos (verdadeiras apelações) e a forma estranha (pra não dizer outra coisa) como muitos aplicam tais recursos. De fato, este é um tema que requer muita lucidez e esclarecimento da nossa parte, conforme nos adverte Paulo: “Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males...” (1 Tm 6.10). No meio evangélico os males são inúmeros, e merecem ser pautados em ocasião oportuna.
Todavia, no momento me deterei em algumas considerações salutares para aqueles que buscam viver e proclamar o evangelho fora dos portões das instituições religiosas.
1.      Não é coerente, nem saudável estabelecermos assuntos ligados às contribuições como prioritários para questionamentos e debates no processo de compreensão do viver cristão livre da instituição igreja.
A meu ver, aqueles que se apegam em demasia ao tema, demonstram claramente que a questão em foco, de alguma forma tem se tornado uma espécie de laço em seus corações. Muitos infelizmente pensam que a expressão do evangelho fora dos guetos institucionais implica apenas no descompromisso com aquela antiga e imprópria prática de “dizimar” e ofertar segundo os moldes do Antigo Testamento.
Considero equívocos, tanto o contribuir sob as regras estabelecidas pelas instituições, erroneamente fundadas em promessas de prosperidade e possíveis sanções no caso da chamada “infidelidade”; quanto à expressão de apego ao dinheiro, manifesto no simples ato de se revoltar contra o modelo de contribuição institucional, sem compreender o assunto à luz da Bíblia, e estabelecer práticas saudáveis e transformadoras.

2.      Deixar o modelo de contribuições pautado nas exigências da religião judaica não significa abandonar o proposto pelo ensino neotestamentário. O fundamental é fazer distinção entre os referidos contextos, entendendo que o que está mais próximo da nossa realidade é a experiência vivida pelos cristãos do primeiro século.
Neste caso em particular duas afirmações precisam ser feitas: primeiro, o NT não aboliu a pratica das contribuições; segundo, também não encontramos na caminhada dos primeiros cristãos a pratica dos dízimos conforme os moldes do AT. Não encontramos tal ensino entre os temas destacados por Jesus ou Paulo. A citação que alguns destacam com sendo uma sinalização de Jesus a favor do dízimo, trata-se na verdade de uma alusão às atitudes controversas dos escribas e fariseus (ver Mt 23.23).
A maneira como as contribuições eram feitas na caminhada não institucional da igreja primitiva nos convida a reflexões serias e respostas comprometidas. O que encontramos nas páginas do NT é um envolvimento muito mais intenso por parte de todos em resposta as necessidades manifestas (ver At 5.32-36).

3.      Diferentemente do que propunha a visão judaica centrada no templo, manutenção da estrutura e o suprimento dos levitas (sacerdotes e outros serviçais da estrutura), o NT prioriza a identificação e suprimento de necessidades pessoais. Havia um claro senso de comunidade e comprometimento uns com os outros. O foco era o relacionamento com Deus e as pessoas, e isso se dava de muitas maneiras, entre as quais se destacava a ajuda mutua: “Ninguém considerava unicamente sua nenhuma das coisas que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham” (At 4.32). O desapego às coisas impulsionava o pleno exercício da misericórdia entre os irmãos.
Notamos claramente que o ter não era condenado, contato que as pessoas soubessem administrar suas posses em favor do suprimento dos menos favorecidos, como as viúvas e os órfãos.
Vale a pena dar uma olhada com atenção nas palavras de Paulo (ver 2 Co 8.1-9.5) demonstrando a maneira como os cristãos se manifestavam generosamente em relação aos apelos por contribuições para  socorrer irmãos e comunidades necessitadas.
Quando necessidades pessoais são identificadas nos cabe agir no sentido de cooperar voluntariamente: “Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria” (2 Co 9.7).

4.      Outro aspecto que merece destaque é o comprometimento coletivo diante das necessidades. Isso é próprio da Igreja, quando a mesma se manifesta ao mundo, sem depender das regras impostas pelas instituições religiosas. Devemos compreender que o fato de sermos cristãos nos torna corresponsáveis diante das questões relacionadas ao Corpo e seus membros (ver 1 Co 12.12-30). Se alguém estiver “sofrendo” e não nos manifestarmos a fim de ajudar, demonstraremos atitude desconexa com as bases do verdadeiro cristianismo.
O simples fato de compreendermos corretamente e não nos submetermos a pratica dos “dízimos”, não pode ser em hipótese alguma, desculpa para a falta de atitude diante de necessidades reaias reconhecidas individual ou coletivamente. O NT nos coloca diante de responsabilidade muito maior do que a imposta pela antiga aliança. Agora, não basta o “simples” e institucional 10%. Somos chamados à adoração com tudo o que estiver em nossas mãos, usando como instrumento para glorificar a Deus por meio da generosidade.

5.      Nosso entendimento a respeito desta importante e tão polemica temática deve considerar as palavras de Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). O mestre fez questão de enfatizar o poder inerente às coisas materiais, e como as mesmas podem exercer domínio sobre nós.
As riquezas (bens materiais) se constituem um poder capaz de atrair a devoção completa por parte daqueles que por elas se deixam dissuadir. Suas estratégias são as mais atraentes possíveis, focadas na satisfação dos desejos imediatos e garantias transitórias. As evidencias dessa triste realidade estão por toda parte, inclusive no meio religioso evangélico onde ecoam apelos desenfreados pelo “ter”, “conquistar”, “prosperar”, e coisas do tipo. Os propagadores dessa mensagem, não apenas se deixaram dominar por “Mamom”, como instigam outros a fazerem o mesmo.
A verdade é que há uma estrutura montada, e esta depende quase que totalmente das contribuições financeiras para sua manutenção. Sendo assim, parece não restar outra alternativa aos lideres religiosos, a não ser aceitarem a proposta de “Mamom”, e automaticamente (mesmo afirmando o contrario) aborrecerem a Deus.
Voltemos ao evangelho! Aceitemos o convite que ele nos faz para sermos apenas e tão somente Igreja de Jesus Cristo! Ela não necessita das roupagens institucionais, do apego ao materialismo, de homens dominando homens, etc.
Voltemos à simples convivência em torno da Palavra, oração e comunhão! Que nossos encontros sejam parar comungar com Deus e uns com os outros, conforme o Espírito nos orientar. Isso basta!

Aos que tentam andar no caminho do evangelho, como eu.

Riva

sábado, 29 de junho de 2013

CONGREGAR



Não deixemos de reunir-nos como igreja,
segundo o costume de alguns, mas procuremos
encorajar-nos uns aos outros, ainda mais
quando vocês veem que se aproxima o Dia”
(Hb 10.25 - NVI)

As citações desenfreadas e na sua maioria equivocadas do texto acima exposto, me instigam a tecer alguns comentários sobre o “congregar”.  Alguns se utilizam deste versículo para “exortar” (encher o saco) de pessoas que optaram por não compactuar das mesmas atividades religiosas praticadas por eles.
Não são poucos os que associam o “congregar” com a frequência sistemática de um local, que a maioria chama de igreja, fato que os leva a considerar “desviados”, “sem igreja”, “rebeldes”, “insubmissos”, etc; aqueles que não fazem parte de instituições religiosas, nem frequentam reuniões litúrgicas. Isto se dá pela falta de entendimento do real significado da igreja (questão que trataremos com maior profundidade em outra oportunidade).
Por hora nos deteremos numa abordagem clara e pratica do texto acima destacado. Tomando-o como base, poderemos ter um entendimento que torne mais contundente o “congregar-nos como igreja”.

“Não deixemos de reunir-nos ... segundo o costume de alguns”. Congregar é apenas nos reunirmos como igreja. Isto significa estarmos juntos com outras pessoas, compartilhando vida por meio da oração, comunhão e palavra (At 2.42). Observando as palavras de Jesus: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estarei no meio deles”.  Estar reunido sob seu nome aponta para a centralidade nos evangelhos, seus ensinamentos e praticas. Não se trata do mero uso do nome de Jesus, numa fachada ou em slogans e frases de efeitos com é comum em muitos locais e ajuntamentos religiosos.
O escritor aos Hebreus nos adverte a respeito de muitos terem o costume de não se reunirem como igreja. Esta é uma clara demonstração de total desconhecimento da verdade do evangelho de Jesus. Quem age assim, se coloca na contramão da edificação pessoal e mutua, dando claros sinais de sua não identificação com o Senhor da Igreja. Fica evidente que esta só pode ser uma inclinação natural daqueles que ainda não compreenderam, e outros que jamais compreenderão o chamado da graça.
Os filhos de Deus não devem se deixar levar pelo exclusivismo ou isolamento. Não há expressão do ser igreja no isolamento premeditado. Eles são impulsionados pelo Espírito Santo, que os aproxima uns dos outros na convivência e proclamação do evangelho.

“... como igreja...”. Está claro que nem toda reunião de pessoas expressa o verdadeiro significado de igreja, mas toda expressão da igreja implica no coletivo, seja em encontros frequentes ou em outras manifestações. A ecclesia não depende das prerrogativas institucionais com nomenclaturas, hierarquias e liturgias; trata-se apenas da reunião de pessoas com objetivo de adorar ao Senhor, com liberdade e simplicidade.
Reuni-se “como igreja” não se relaciona com a frequência sistemática a um determinado local, ainda mais quando o mesmo é chamado de “igreja”. O que realmente importa é o encontro, as pessoas (igreja), a edificação mutua por meio da palavra, oração e comunhão.
Quando nos reunimos como igreja o Senhor se manifesta na coletividade por meio dos dons, conforme nos instrui Pedro: “Cada um exerça o do que recebeu para servir os outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas” (1 Pe 4.10 - NVI). A verdadeira igreja inspira a participação de todos, contrariando aqueles que se assentam a espera  que alguns poucos tenham o controle das reuniões, exercendo domínio impróprio. Recordemos as palavras de Paulo: Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação” (1 Co 14.26).

“Mas procuremos encorajar-nos uns aos outros”. Aqui está uma das maiores bênçãos decorrentes da vida comunitária do corpo de Cristo. Na caminhada com outros irmãos somos encorajados e encorajamos, fortalecidos e fortalecemos, ajudamos a levantar e somos levantados quando caímos.
Olhando por este ângulo, podemos concluir que aos nos reunirmos como igreja, somos os maiores favorecidos. Deus não precisa dos nossos ajuntamentos, mas nós necessitamos dele e uns dos outros. Neste sentido, deixar de “congregar” nos torna  mais vulneráveis ante as muitas lutas que enfrentamos diariamente.
Na falsa ideia proposta pelo congregar institucional, onde a montagem é teatral e truncada, há pouquíssima ou quase nenhuma abertura para o pleno exercício da mutualidade e encorajamento uns dos outros. Se não houver verdadeira convivência entre os irmãos, dificilmente desfrutaremos do pleno exercício dos dons. Se as reuniões forem liturgicamente “corretas” provavelmente serão incorretas do ponto de vista do engajamento e encorajamento proposto pelo evangelho.
Com é bom adorar a Deus juntamente com pessoas que se colocam ao nosso lado como “amigos mais chegados que irmãos”. Por meio de todos Deus manifesta sua graça, e assim seguimos o conselho paulino: “Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor” (Ef 4.2 – NVI). 
                                    
“Ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia” . Dentre os muitos sinais bíblicos do final dos tempos, um dos mais relacionados com o viver congregacional é o “esfriamento do amor” (Mt 24.12). Segundo Jesus isso se daria principalmente “Devido o aumento da maldade”. A maldade reprime a manifestação do amor, e a tal esfriamento nos afasta uns dos outros. Por esta razão devemos redobrar nossa atenção, e dar o devido valor ao “congregar como igreja”.
Quanto mais caminhamos como discípulos de Jesus, mais nos aproximamos da consumação de todas as coisas. Tempo no qual o Senhor se manifestará para receber os eleitos e entregá-los ao Pai. Tal jornada deve ser marcada pela comunhão entre os irmãos na promoção da edificação uns dos outros, para a firme perseverança até “o Dia”.

Aos eleitos, unidos à Igreja de Jesus Cristo, e por sua graça e misericórdia ligados uns aos outros em comunhão.

Riva






sexta-feira, 7 de junho de 2013

O FOCO DA ORAÇÃO DE JESUS (João 17)





      Uma das maiores evidencias do conhecimento e comunhão com Deus é a maneira como nos manifestamos por meio da oração. Jesus durante sua caminhada terrena, manteve-se focado na pessoa e planos do Pai. Isso se manifestava de varias maneiras, inclusive por meio de suas orações.
      Na narrativa de João 17, vemos Jesus orando com base nos fundamentos do plano divino para sua missão. Assim como em outros momentos, ele não destoa daquilo que Deus o havia confiado, e faz questão de priorizar isso, como foco principal de sua intercessão. Lendo o texto calmamente, e relacionando-o com outras passagens dos evangelhos, encontraremos verdades como:
  1. Primeiramente ele confirma que o Pai lhe deu autoridade sobre toda humanidade, e com base na mesma, concede vida eterna: “... para que conceda vida eterna a todos os que lhe deste” (v. 2). Jesus vivia com base na soberania divina, e se submetia plenamente àquilo que a mesma havia confiado em suas mãos (ver Jo 6.37-65).
Temos aqui a afirmação da doutrina bíblica da expiação limitada. Afirmando que a obra redentora de Cristo teve como alvo apenas “aqueles que o Pai lhe deu” (eleitos), e não todos no sentido de humanidade. Embora esta questão estivesse muito clara, Jesus ele não deixava de se relacionar com todas as pessoas, e anunciar as boas novas às mesmas.
O Filho de Deus não se deixava levar pelos desejos dos homens, nem orava no sentido oposto ao plano divino. Ele sabia qual era o foco de sua missão terrena. Deus lhe deu “toda autoridade nos céus e na terra” (Mt 28.18), e isto incluía salvar da ira divina, apenas aqueles que havia recebido do Pai (Jo 6.39).
  1. Embora Jesus tenha proclamado as boas novas a todas as pessoas que se aproximavam para ouvi-Lo, revelou o nome do Pai, apenas “àqueles que do mundo o Pai lhe deu” (v. 6). Os eleitos são iluminados pelo Espírito para entenderem a mensagem do evangelho. Todos podem e devem ouvir, mas a missão de Jesus é revelar a vontade de Deus aos eleitos.
A maneira com os escolhidos pelo Pai compreende o evangelho não pode ser mensurada a partir de argumentos meramente racionais (ainda que seja plenamente possível explicá-la). Trata-se de uma obra gerada pelo Espírito no coração daqueles que não poderão resistir a graça divina. Ao ouvirem a Palavra, brota-lhes a fé salvadora, e esta produz arrependimento e conversão ao caminho do evangelho (ver At 2.37-41).
Devemos seguir o exemplo de Jesus, anunciando o evangelho às pessoas, como parte da nossa missão. Todavia, devemos fazê-lo, sem a pressão por “resultados” (números), pois o convencimento é obra divina, e Ele opera como e quando lhe apraz, a fim de alcançar seus escolhidos.
  1. Na oração, Jesus também demonstra  cuidado com aqueles que o Pai confiou em suas mãos (v. 9). Sua intercessão é direcionada aos discípulos e àqueles (eleitos) que creriam por meio da pregação dos mesmos (v. 20).
Dos cerca de três anos de intensa missão, Jesus aplicou aproximadamente um ano e meio em torno dos doze. Eles eram prioridade na caminhada do Mestre. Este é o verdadeiro discipulado e cuidado, desenvolvidos na caminhada juntos.
A intercessão é um ponto importante na vida dos filhos de Deus, pois através dela demonstramos sujeição à vontade divina, e nossa busca por compreendê-la melhor. Orar pelas pessoas que conhecem ou conhecerão o evangelho é orar de acordo o plano redentor revelado por meio da vida e mensagem de Jesus.
  1. Finalmente, João mostra como Jesus prestou contas ao Pai: “Nenhum daqueles (que me destes) se perdeu” (v. 12). Manifesta-se aqui o “bom Pastor”, aquele que “dá sua vida pelas ovelhas” (ver Jo 10). Sob seus cuidados, todos os eleitos (ovelhas) de Deus são guardados e apresentados a Deus.
Diante disso, pensar na “possibilidade” de perda de salvação é negar questões como: a livre e soberana vontade divina em escolher os eleitos, a eficácia permanente do sacrifício de Jesus sobre aqueles pelos quais ele morreu e ressuscitou e a fidelidade daquele que afirmou cuidar dos que lhe foram confiados.
Ao contrario do que pensam os desinformados, o viver fundamentado na perseverança dos santos não credencia os eleitos a viverem de modo libertino, mas ao quebrantamento e apego a graça divina. Somos santificados pelo Espírito, e não pelos nossos próprios esforços. Na verdade, se dependêssemos de nós mesmos, jamais seriamos salvos da ira divina. Todavia, alcançados pela graça, nos tornamos gratos e o Espírito Santo nos guia no caminho da obediência.
Com a mesma lucidez que afirma a perseverança dos santos, Jesus também destaca: “... a não ser aquele que estava destinado à perdição, para que se cumprisse a Escritura”  (v. 12). Não há como esconder que a eleição de uns, implica na não eleição de outros (ver Rm 10-23). A exemplo de Judas, todos os homens cumprem o propósito divino na história, mas isto não significa que todos eles serão salvos. Aqueles que não foram eleitos antes da fundação do mundo seguirão o curso natural da vida, desprovidos da graça divina.
O caminho do evangelho de Jesus é estreito. Andar nele implica em sujeição à graça e misericórdia do Senhor, pois somente assim seremos verdadeiramente seus discípulos e demonstraremos na pratica que somos eleitos de Deus, e não meros seguidores de determinadas doutrinas ou instituições.
Os olhos dos discípulos de Jesus devem permanecer focados naquilo que o Mestre focou. São estas coisas que devem pautar nossos passos, e não os nossos desejos carnais. O desafio é grande, mas, lembremo-nos: sobre nós repousa a graça divina. Ela nos basta!

Riva                                                                                                                                                                                                                   

      

terça-feira, 28 de maio de 2013

“Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas
Ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.26, 27)

Na busca pela compreensão da verdade divina a partir da Sua soberana vontade, nos deparamos com a doutrina bíblica da eleição (ver Ef 1.4; Rm 8.28,29; Jo 6.44, 65). Deus, em sua livre vontade, escolheu alguns dentre todos os homens que estavam “mortos em seus delitos e pecados” (Ef 2.1-5), para serem salvos de sua ira.
Jesus chama tais escolhidos de: “minhas ovelhas” (Jo 10.27), “aqueles que o Pai me dá” (Jo 6.37). E também afirma que: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair” (Jo 6.44). Nenhum outro entendeu e ensinou melhor os pressupostos da eleição, do que o próprio Filho de Deus. Paulo, Calvino e o demais defensores da mesma, foram apenas fieis aos ensinos do Mestre.
Por quê a maioria das pessoas são tão avessas a doutrina bíblica da eleição? Em busca de respostas claras devemos nos reportar aos seguintes pontos:
Um dos principais motivos (se não o maior) para tal aversão é o fato de os pecadores (todos os homens) não reconhecerem seu estado de total depravação e morte espiritual (ver Rm 3.9-18). Por esta razão, erroneamente se acham merecedores do amor divino. Todavia, a manifestação do mesmo é fruto da livre e soberana manifestação da graça e misericórdia divina, e não dos desejos humanos. 
A Bíblia nos mostra que apenas os eleitos são quebrantados e se arrependem de seus pecados, pois o Espírito que neles habita os convence da total miséria e necessidade da misericórdia divina. Estes são aqueles que o “Pai entrega aos cuidados de Jesus” (ver Jo 6.37), a fim de que o Supremo pastor os guarde até o fim.
Outro elemento comprobatório da aversão à doutrina da eleição dos santos é a incompreensão da soberania divina. Embora a maioria dos denominados cristãos afirmem que Deus é soberano, na pratica se verifica o contrario. Julgam tal domínio apenas para questões que lhes agrade, como por exemplo: cuidado, amor, proteção, poder; mas, resistem ao fato de Deus ser soberano para ter escolhido aqueles que ele mesmo quis (Ef 1.4). Para estas pessoas, tal escolha seria injusta. 
Convém perguntarmos: o que seria justo para aqueles (todos) que pecaram e foram destituídos da gloria de Deus? Não seria a condenação eterna? De fato seria! Mas Deus por seu amor e misericórdia decidiu salvar alguns (ver Ef 2.1-8).
A soberania divina é fundamental para a compreensão da doutrina bíblica e o desenvolvimento de praticas saudáveis e relevantes em qualquer época ou cultura.
Há também aqueles que se fecham à doutrina da eleição, pelo simples fato de acharem que a mesma seja uma porta para o viver desregrado. Tais pessoas fazem mau uso da expressão: “Uma vez salvo, salvo para sempre”. Desconhecendo os fundamentos, e os resultados da salvação pela graça, permanecem apegados ao engano do livre arbítrio.
Os eleitos, salvos pela graça e misericórdia divina, buscam um viver embasado na Palavra de Deus e seus ensinos. Compreendem o alto grau de responsabilidade que lhes é devido, demonstrando “frutos dignos de arrependimento”. Ao contrario de ser uma porta aberta para o liberalismo, a salvação pela graça nos chama à sujeição ao Senhor (ver Gl 5.1, 13).
Por fim, destaco os inúmeros equívocos causados pelos falsos ensinos, infelizmente seguidos pela maioria dos evangélicos. Crenças que colocam o homem como personagem central, a ponto de asseverar que o mesmo é capaz de escolher entre “aceitar” ou “rejeitar” a salvação; como se isso lhe fosse possível. 
Faz-se necessário salientar que a doutrina do livre arbítrio, lançada por Pelágio (monge britânico – 350-423), foi veementemente combatida por Agostinho, e consequentemente reputada como heresia, no século IV. Ainda assim, anos depois surgiu Arminius, cobatendo os ensinos de Calvino, e ressuscitando as heresias de Pelágio. 
Infelizmente a maioria dos que afirmam ser arminianos, desconhecem a história e seguem desprovidos de sólida fundamentação bíblica. 
Voltemo-nos à busca pela verdadeira base para darmos passos firmes na caminhada de fé e adoração ao Senhor. Isso demandará um serio retorno as Escrituras, e aplicação ao estudo da História da Igreja. Neste sentido, os ensinos de Jesus e de Paulo, são importantíssimos, pois ambos nos revelam com maestria a vontade soberana do Senhor.
A eleição é apenas um dos pontos das chamadas doutrinas da graça. Um entendimento mais amplo exigirá um esforço da nossa parte, no sentido de conhecermos as demais temáticas. Espero apresentar novas contribuições nos próximos escritos.

Riva Santos