"A vida cristã não é resultado da escolha do cristão, e sim sua resposta ao fato de que Deus o escolheu" (James M. Houston)

terça-feira, 20 de julho de 2010

O CAMINHO DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO (1 Coríntios 13) II Parte - por Riva


Conforme abordado na primeira parte desta reflexão, o caminho do evangelho de Jesus Cristo, não consiste apenas em questões voltadas ao carisma, saber ou prática de boas obras. Seguir o roteiro traçado pelo Mestre implica na compreensão do “caminho sobremodo excelente”. O amor é a marca distintiva entre o verdadeiro e o falso evangelho, e o amor a ser vivenciado no caminhar cristão, não se trata de uma mera paixão ou entrega impulsiva, mas sim, do modelo de vida e serviço praticados por Jesus.

Ainda que Jesus tenha se manifestado com poder, e ensinado com sabedoria enquanto caminhava fazendo o bem; ele não fazia nenhuma destas coisas com o fim de se autopromover ou demonstrar o quanto era “espiritual”. Tais atitudes decorriam de seu coração estar cheio de amor. Ele amava o Pai, e consequentemente amava aqueles a quem o Pai o enviara. Durante sua peregrinação terrena, Jesus trilhou o “caminho sobremodo excelente”, e a partir dele, este caminho tornou-se rota obrigatória a todos quantos desejarem ser do Evangelho.

Na ótica paulina, estava claro que tipo de amor era esse. Ágape é o amor comprometido que nos convida ao compromisso na caminhada. Isso nos leva muito além do carisma, do saber e das boas obras, nos colocando na seguinte trilha:

Trilhar o caminho do Evangelho de Jesus Cristo implica em estarmos dispostos a não vivermos mais para nós mesmos (v. 4-6). Esse foi um dos principais ensinos do Senhor para os seus discípulos (ver Mt 16.24-26). Naturalmente falando é próprio do ser humano viver em função de seus próprios desejos. Por isso no “caminho sobre modo excelente” precisamos de coisas como: paciência, benignidade, não arder em ciúmes, não nos ensoberbecermos, deixar de viver em função dos nossos próprios interesses, nos conduzindo como convém e não nos ressentindo do mal.

Quando pela graça divina, andamos no caminho que o evangelho nos propõe, inevitavelmente teremos de encarar tais realidades. Isso demonstra como é diferente esse caminho, daquele apresentado por muitos propagadores de facilidades e “bênçãos”. No Evangelho de Jesus Cristo não há lugar para entronização do eu, nem promessas de satisfação de todos os desejos humanos. Deus não é um tipo gênio da lâmpada. Ele não nos chama para um viver em clima de magia, mas para a pura realidade da vida, com seus encontros e desencontros, ventos favoráveis e contrários. O “caminho sobremodo excelente” é o caminho da vida, e o caminho da vida tem uma passagem obrigatória, o amor.

Trilhar o caminho proposto por Jesus, também implica em buscarmos a justiça e a verdade (v. 6). Esse parece ser um caminho até certo ponto natural àqueles que andando no evangelho vão se tornando menos centrados em si mesmos, e como consequência, mais parecidos com o Mestre.

No “caminho sobremodo excelente”, justiça e verdade são aspectos fundamentais para um viver sensato e maduro. Pensar em amor sem estes dois elementos é um romancear. É dissolvê-lo do seu real significado bíblico, pois o Deus que é amor, sempre será justo e verdadeiro.
Devemos considerar as palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mt 5.6). Em meio a tantas injustiças e mentiras, faz-se necessário que as pessoas do Evangelho de Jesus Cristo sejam reconhecidas muito além de seu carisma, saber ou prática de boas obras. Enquanto não formos expressão visível de justiça e verdade em nossos relacionamentos nesse mundo, estaremos como muito bem escreveu John MacArthur: “Envergonhando o Evangelho.”

Reconheçamos nossa real condição. Todos somos pecadores (ver Rm 3.9-31), e mesmo arrependidos, ainda continuamos pecadores, e como tais será impossível sermos justos e verdadeiros por nossa própria vontade. Naturalmente, sempre seremos inclinados à injustiça e mentira, mas pela ação do Espírito, Deus nos conduz em justiça e verdade. Somente por sua graça e misericórdia poderemos trilhar esse caminho, e amar como somos amados por Ele.

As palavras de Paulo ainda nos fazem considerar que, trilhar o caminho do Evangelho implica em encararmos uma jornada de grandes desafios (v. 7). Para aqueles que buscam facilidades, e um viver sem grandes obstáculos, estas parecem não serem as expressões mais atraentes. Que atração há em “tudo sofrer”, se muitos preferem um suposto “evangelho”, sem cruz e sem sofrimento. Querem amor, mas não o amor que lhes convide ao sofrer. A moda é apelar: “Pare de sofre!” Enquanto o caminho do Evangelho de Jesus Cristo diz: experimente o amor capaz de “tudo sofrer”.

Na caminhada proposta por Jesus, o amor sustenta a fé, e esta sustenta o amor. Quem é amado e ama de verdade, nunca pára de crer. Neste caso a fé não é circunstancial, nem vítima de fatores meramente “positivos”. No “caminho sobremodo excelente” a nossa fé é diariamente desafiada pelas circunstâncias aparentemente contrárias, mas jamais vencida por elas.

Quem é capaz de tudo sofrer sem deixar de crer, torna-se um sério candidato a “tudo esperar”. Manter firme a esperança é um dos maiores desafios da caminhada cristã (ver Rm 5.3, 4). A esperança se mantém viva no coração daqueles que vivem convictos de estarem caminhando por um roteiro inconfundível, que nos conduzirá à glorificação eterna.

O último desafio é “tudo suportar”. No caminho do amor, Jesus suportou todas as aflições, até a morte na cruz (ver Fp 2.5-8). Na verdade, quer queiramos ou não, sempre estaremos sendo suportados, e sendo convidados a suportar. Todavia, não conseguiremos fazê-lo apenas pelo carisma, saber ou prática de boas obras. Tal desafio só será vencido pelo amor.
Que o Deus soberano nos dê graça nessa caminhada diária.

Beijo na testa!
Riva

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O CAMINHO DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO (1 Coríntios 13) Parte I


Do ponto de vista da fé carismática, a igreja de Corinto poderia ser considerada uma comunidade expressiva e “poderosa”. Em suas cartas à esta igreja, Paulo ocupou extensos trechos para tratar de temas diretamente relacionados às manifestações do Espírito. O interesse dos crentes pelas manifestações carismáticas era tão grande, que muitos extrapolavam no mau exercício das mesmas. A despeito da forte inclinação carismática, ao que tudo indica, lhes faltava sabedoria e maturidade na compreensão e administração do poder.

Se tal comunidade fosse uma realidade visível em algum espaço geográfico dos nossos dias, certamente não seriam poucos os que peregrinariam até lá, a fim de buscar uma suposta “nova unção” ou uma “nova estratégia de crescimento”. Outros por certo diriam coisas do tipo: “Que igreja poderosa”, “a mão de Deus está ali”, “é fogo puro”, “reteté”, e tantos outros jargões do mundo evangélico.

É evidente que não podemos negar que a igreja de Corinto tinha forte ligação com o carisma, e que tal fator gerou uma serie de bênçãos e continua gerando no decorrer da história da Igreja. Dito isso, convém considerarmos também questões não muito agradáveis que também estavam presentes nessa comunidade, mesmo sendo ela tão carismática. Dentre outras coisas, Paulo destaca a imaturidade dos crentes (cap. 3.1, 2), as divisões (cap. 3.3-9), imoralidade (cap. 5), falta de sensibilidade para com os menos favorecidos e suas necessidades (cap. 11.17-34) e a crise instalada na manifestação pessoal e publica dos dons (cap. 12 e 14).

Neste contexto paradoxal de manifestações do Espírito e manifestações carnais, o apóstolo propõe aos corintos, “um caminho sobremodo excelente”. Que caminho é esse? Esse é o caminho do Evangelho de Jesus! O caminho da verdadeira fé cristã! O caminho do ágape (amor)!

Com isto podemos aprender algumas lições práticas que acredito terem sido propostas por Paulo àquela comunidade, e da mesma forma a todos quantos desejarem trilhar o caminho do Evangelho de Jesus Cristo:

Em primeiro lugar, o contexto e as afirmações paulinas nos instruem que, no caminho do Evangelho de Jesus Cristo, não basta viver das ou pelas manifestações carismáticas (v. 1, 2). “Falar a língua dos anjos e dos homens” e “profetizar”, por mais maravilhoso que seja não é suficiente para demonstrar nossa verdadeira conversão ao evangelho. Na ótica de Paulo, “se não tiver amor”, é apenas brilho e barulho exterior, “é como bronze que soa ou como címbalo que retine.

O carisma por si só não basta. Quem deseja andar na trilha do Mestre, não poderá viver apenas das manifestações carismáticas, pois as mesmas sem amor significam pouca coisa àqueles que só precisam de uma coisa, serem amados. Ser um crente carismático sem evidenciar o amor acima de todos os dons é viver enganado por um “poder” sem poder de Deus.

Segundo, no caminho do Evangelho de Jesus Cristo, todo conhecimento e sabedoria humana ou espiritual não são suficientes para um viver relevante (v.1, 2). Em Corinto, havia uma forte influência do pensamento grego, e a busca pelo saber era algo constante, a ponto de muitos crentes terem pautado sua fé, nesta questão. Concordo com as palavras de John Stott: “Crer também é pensar”. Todavia, me mantenho distante daqueles que buscam uma fé apenas no plano racional.

Paulo era um mestre. Não lhe faltava sabedoria, mas conhecendo a graça do caminho do evangelho, compreendeu que a lei maior não consiste na mera letra: “A letra mata, mas o Espírito vivifica”. Nas palavras de Jesus, a lei maior, é a lei do amor, manifesto para com Deus e com o nosso próximo (ver Mc 12.28-34).

A verdadeira sabedoria no caminho do evangelho é revelada pelo o amor que manifestamos em nossos relacionamentos. Não é apenas uma questão de saber mais ou menos. O verdadeiro cristão não é aquele que detém mais conhecimento teológico, pois sem amor: “nada serei”. Busquemos o saber, mas não permitamos que o mesmo sufoque o amor.

Em terceiro lugar, Paulo nos adverte que, o caminho do Evangelho de Jesus Cristo não é um mero praticar de boas obras (v. 3). Muitas pessoas deixam de lado o carisma e o saber, e se voltam apenas para as “boas obras”. Vivem piedosamente, mas ainda assim, correm o risco de não estar trilhando o “caminho sobremodo excelente”. Boas obras sem amor pode ser um dos piores sinais de egoísmo e busca pessoal por reconhecimento. O amor é a força motriz para ações que glorificam a Deus e transformam a sociedade.

Paulo é radical em sua abordagem dessa questão, afirmando que mesmo que sejamos capazes de fazer aquilo que o “jovem rico” não fez (ver Mc 10.17-20), distribuir todos os nossos bens entre os pobres; e chegarmos ao extremo de entregar o nosso próprio corpo para ser queimado, “se não tiver amor, nada disso me aproveitará.” É isso mesmo. Sem amor, toda entrega é entrega sem valor, sem proveito. Para Deus a essência não está no que entregamos, mas no que nos dirigi a fazê-lo.

Refletindo nestas três questões, podemos concluir que há uma enorme diferença entre o caminho do Evangelho de Jesus Cristo e aquele proposto por muitas expressões “evangélicas” da atualidade. Sendo assim, todos nós somos chamados pelo Soberano Deus, a trilharmos esse “caminho mais excelente”. Para andarmos por ele, devemos reconhecer nossa total incapacidade e méritos pessoais, confiando inteiramente em sua graça e capacitação pelo Espírito. É ele quem derrama o amor de Deus em nossos corações (Rm 5.8).

Acima do carisma, do saber e das “boas obras”, sejamos do Evangelho. O Evangelho que acima de todas as coisas é um chamado aos amados de Deus, para que amem como são amados por Ele. Vamos lá “trilheiros” da fé!

Beijo na testa! Riva