"A vida cristã não é resultado da escolha do cristão, e sim sua resposta ao fato de que Deus o escolheu" (James M. Houston)

sábado, 29 de junho de 2013

CONGREGAR



Não deixemos de reunir-nos como igreja,
segundo o costume de alguns, mas procuremos
encorajar-nos uns aos outros, ainda mais
quando vocês veem que se aproxima o Dia”
(Hb 10.25 - NVI)

As citações desenfreadas e na sua maioria equivocadas do texto acima exposto, me instigam a tecer alguns comentários sobre o “congregar”.  Alguns se utilizam deste versículo para “exortar” (encher o saco) de pessoas que optaram por não compactuar das mesmas atividades religiosas praticadas por eles.
Não são poucos os que associam o “congregar” com a frequência sistemática de um local, que a maioria chama de igreja, fato que os leva a considerar “desviados”, “sem igreja”, “rebeldes”, “insubmissos”, etc; aqueles que não fazem parte de instituições religiosas, nem frequentam reuniões litúrgicas. Isto se dá pela falta de entendimento do real significado da igreja (questão que trataremos com maior profundidade em outra oportunidade).
Por hora nos deteremos numa abordagem clara e pratica do texto acima destacado. Tomando-o como base, poderemos ter um entendimento que torne mais contundente o “congregar-nos como igreja”.

“Não deixemos de reunir-nos ... segundo o costume de alguns”. Congregar é apenas nos reunirmos como igreja. Isto significa estarmos juntos com outras pessoas, compartilhando vida por meio da oração, comunhão e palavra (At 2.42). Observando as palavras de Jesus: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estarei no meio deles”.  Estar reunido sob seu nome aponta para a centralidade nos evangelhos, seus ensinamentos e praticas. Não se trata do mero uso do nome de Jesus, numa fachada ou em slogans e frases de efeitos com é comum em muitos locais e ajuntamentos religiosos.
O escritor aos Hebreus nos adverte a respeito de muitos terem o costume de não se reunirem como igreja. Esta é uma clara demonstração de total desconhecimento da verdade do evangelho de Jesus. Quem age assim, se coloca na contramão da edificação pessoal e mutua, dando claros sinais de sua não identificação com o Senhor da Igreja. Fica evidente que esta só pode ser uma inclinação natural daqueles que ainda não compreenderam, e outros que jamais compreenderão o chamado da graça.
Os filhos de Deus não devem se deixar levar pelo exclusivismo ou isolamento. Não há expressão do ser igreja no isolamento premeditado. Eles são impulsionados pelo Espírito Santo, que os aproxima uns dos outros na convivência e proclamação do evangelho.

“... como igreja...”. Está claro que nem toda reunião de pessoas expressa o verdadeiro significado de igreja, mas toda expressão da igreja implica no coletivo, seja em encontros frequentes ou em outras manifestações. A ecclesia não depende das prerrogativas institucionais com nomenclaturas, hierarquias e liturgias; trata-se apenas da reunião de pessoas com objetivo de adorar ao Senhor, com liberdade e simplicidade.
Reuni-se “como igreja” não se relaciona com a frequência sistemática a um determinado local, ainda mais quando o mesmo é chamado de “igreja”. O que realmente importa é o encontro, as pessoas (igreja), a edificação mutua por meio da palavra, oração e comunhão.
Quando nos reunimos como igreja o Senhor se manifesta na coletividade por meio dos dons, conforme nos instrui Pedro: “Cada um exerça o do que recebeu para servir os outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas” (1 Pe 4.10 - NVI). A verdadeira igreja inspira a participação de todos, contrariando aqueles que se assentam a espera  que alguns poucos tenham o controle das reuniões, exercendo domínio impróprio. Recordemos as palavras de Paulo: Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação” (1 Co 14.26).

“Mas procuremos encorajar-nos uns aos outros”. Aqui está uma das maiores bênçãos decorrentes da vida comunitária do corpo de Cristo. Na caminhada com outros irmãos somos encorajados e encorajamos, fortalecidos e fortalecemos, ajudamos a levantar e somos levantados quando caímos.
Olhando por este ângulo, podemos concluir que aos nos reunirmos como igreja, somos os maiores favorecidos. Deus não precisa dos nossos ajuntamentos, mas nós necessitamos dele e uns dos outros. Neste sentido, deixar de “congregar” nos torna  mais vulneráveis ante as muitas lutas que enfrentamos diariamente.
Na falsa ideia proposta pelo congregar institucional, onde a montagem é teatral e truncada, há pouquíssima ou quase nenhuma abertura para o pleno exercício da mutualidade e encorajamento uns dos outros. Se não houver verdadeira convivência entre os irmãos, dificilmente desfrutaremos do pleno exercício dos dons. Se as reuniões forem liturgicamente “corretas” provavelmente serão incorretas do ponto de vista do engajamento e encorajamento proposto pelo evangelho.
Com é bom adorar a Deus juntamente com pessoas que se colocam ao nosso lado como “amigos mais chegados que irmãos”. Por meio de todos Deus manifesta sua graça, e assim seguimos o conselho paulino: “Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor” (Ef 4.2 – NVI). 
                                    
“Ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia” . Dentre os muitos sinais bíblicos do final dos tempos, um dos mais relacionados com o viver congregacional é o “esfriamento do amor” (Mt 24.12). Segundo Jesus isso se daria principalmente “Devido o aumento da maldade”. A maldade reprime a manifestação do amor, e a tal esfriamento nos afasta uns dos outros. Por esta razão devemos redobrar nossa atenção, e dar o devido valor ao “congregar como igreja”.
Quanto mais caminhamos como discípulos de Jesus, mais nos aproximamos da consumação de todas as coisas. Tempo no qual o Senhor se manifestará para receber os eleitos e entregá-los ao Pai. Tal jornada deve ser marcada pela comunhão entre os irmãos na promoção da edificação uns dos outros, para a firme perseverança até “o Dia”.

Aos eleitos, unidos à Igreja de Jesus Cristo, e por sua graça e misericórdia ligados uns aos outros em comunhão.

Riva






sexta-feira, 7 de junho de 2013

O FOCO DA ORAÇÃO DE JESUS (João 17)





      Uma das maiores evidencias do conhecimento e comunhão com Deus é a maneira como nos manifestamos por meio da oração. Jesus durante sua caminhada terrena, manteve-se focado na pessoa e planos do Pai. Isso se manifestava de varias maneiras, inclusive por meio de suas orações.
      Na narrativa de João 17, vemos Jesus orando com base nos fundamentos do plano divino para sua missão. Assim como em outros momentos, ele não destoa daquilo que Deus o havia confiado, e faz questão de priorizar isso, como foco principal de sua intercessão. Lendo o texto calmamente, e relacionando-o com outras passagens dos evangelhos, encontraremos verdades como:
  1. Primeiramente ele confirma que o Pai lhe deu autoridade sobre toda humanidade, e com base na mesma, concede vida eterna: “... para que conceda vida eterna a todos os que lhe deste” (v. 2). Jesus vivia com base na soberania divina, e se submetia plenamente àquilo que a mesma havia confiado em suas mãos (ver Jo 6.37-65).
Temos aqui a afirmação da doutrina bíblica da expiação limitada. Afirmando que a obra redentora de Cristo teve como alvo apenas “aqueles que o Pai lhe deu” (eleitos), e não todos no sentido de humanidade. Embora esta questão estivesse muito clara, Jesus ele não deixava de se relacionar com todas as pessoas, e anunciar as boas novas às mesmas.
O Filho de Deus não se deixava levar pelos desejos dos homens, nem orava no sentido oposto ao plano divino. Ele sabia qual era o foco de sua missão terrena. Deus lhe deu “toda autoridade nos céus e na terra” (Mt 28.18), e isto incluía salvar da ira divina, apenas aqueles que havia recebido do Pai (Jo 6.39).
  1. Embora Jesus tenha proclamado as boas novas a todas as pessoas que se aproximavam para ouvi-Lo, revelou o nome do Pai, apenas “àqueles que do mundo o Pai lhe deu” (v. 6). Os eleitos são iluminados pelo Espírito para entenderem a mensagem do evangelho. Todos podem e devem ouvir, mas a missão de Jesus é revelar a vontade de Deus aos eleitos.
A maneira com os escolhidos pelo Pai compreende o evangelho não pode ser mensurada a partir de argumentos meramente racionais (ainda que seja plenamente possível explicá-la). Trata-se de uma obra gerada pelo Espírito no coração daqueles que não poderão resistir a graça divina. Ao ouvirem a Palavra, brota-lhes a fé salvadora, e esta produz arrependimento e conversão ao caminho do evangelho (ver At 2.37-41).
Devemos seguir o exemplo de Jesus, anunciando o evangelho às pessoas, como parte da nossa missão. Todavia, devemos fazê-lo, sem a pressão por “resultados” (números), pois o convencimento é obra divina, e Ele opera como e quando lhe apraz, a fim de alcançar seus escolhidos.
  1. Na oração, Jesus também demonstra  cuidado com aqueles que o Pai confiou em suas mãos (v. 9). Sua intercessão é direcionada aos discípulos e àqueles (eleitos) que creriam por meio da pregação dos mesmos (v. 20).
Dos cerca de três anos de intensa missão, Jesus aplicou aproximadamente um ano e meio em torno dos doze. Eles eram prioridade na caminhada do Mestre. Este é o verdadeiro discipulado e cuidado, desenvolvidos na caminhada juntos.
A intercessão é um ponto importante na vida dos filhos de Deus, pois através dela demonstramos sujeição à vontade divina, e nossa busca por compreendê-la melhor. Orar pelas pessoas que conhecem ou conhecerão o evangelho é orar de acordo o plano redentor revelado por meio da vida e mensagem de Jesus.
  1. Finalmente, João mostra como Jesus prestou contas ao Pai: “Nenhum daqueles (que me destes) se perdeu” (v. 12). Manifesta-se aqui o “bom Pastor”, aquele que “dá sua vida pelas ovelhas” (ver Jo 10). Sob seus cuidados, todos os eleitos (ovelhas) de Deus são guardados e apresentados a Deus.
Diante disso, pensar na “possibilidade” de perda de salvação é negar questões como: a livre e soberana vontade divina em escolher os eleitos, a eficácia permanente do sacrifício de Jesus sobre aqueles pelos quais ele morreu e ressuscitou e a fidelidade daquele que afirmou cuidar dos que lhe foram confiados.
Ao contrario do que pensam os desinformados, o viver fundamentado na perseverança dos santos não credencia os eleitos a viverem de modo libertino, mas ao quebrantamento e apego a graça divina. Somos santificados pelo Espírito, e não pelos nossos próprios esforços. Na verdade, se dependêssemos de nós mesmos, jamais seriamos salvos da ira divina. Todavia, alcançados pela graça, nos tornamos gratos e o Espírito Santo nos guia no caminho da obediência.
Com a mesma lucidez que afirma a perseverança dos santos, Jesus também destaca: “... a não ser aquele que estava destinado à perdição, para que se cumprisse a Escritura”  (v. 12). Não há como esconder que a eleição de uns, implica na não eleição de outros (ver Rm 10-23). A exemplo de Judas, todos os homens cumprem o propósito divino na história, mas isto não significa que todos eles serão salvos. Aqueles que não foram eleitos antes da fundação do mundo seguirão o curso natural da vida, desprovidos da graça divina.
O caminho do evangelho de Jesus é estreito. Andar nele implica em sujeição à graça e misericórdia do Senhor, pois somente assim seremos verdadeiramente seus discípulos e demonstraremos na pratica que somos eleitos de Deus, e não meros seguidores de determinadas doutrinas ou instituições.
Os olhos dos discípulos de Jesus devem permanecer focados naquilo que o Mestre focou. São estas coisas que devem pautar nossos passos, e não os nossos desejos carnais. O desafio é grande, mas, lembremo-nos: sobre nós repousa a graça divina. Ela nos basta!

Riva