"A vida cristã não é resultado da escolha do cristão, e sim sua resposta ao fato de que Deus o escolheu" (James M. Houston)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A IGREJA É UMA EMPRESA? - Riva



Na últimas décadas temos experimentado grandes avanços científicos, tecnológicos, econômicos; dentre outros. Consequentemente, todas as esferas da sociedade acabam influenciadas por tais tendências, inclusive a igreja. Esta tem absorvido as principais “guloseimas” do mercado, entrando assim num universo semelhante ao das grandes corporações empresariais.

Livros como, Uma Igreja Com Propósitos, de Rick Warren, entre outros, revelam a busca por um plano de ação e crescimento, capaz de dar inveja a muitos empresários bem sucedidos. O referido autor, assim como vários outros (principalmente norte americanos), apresentam-nos um modelo de “igreja” empresarial, no qual o líder principal assume o papel de um gestor presidente, responsável por formar uma equipe de subgerentes (líderes de ministérios, obreiros, etc), além de gerenciar os empreendimentos propostos. Seus liderados são responsáveis pelo funcionamento da “máquina”, sendo constantemente cobrados pelo crescimento numérico da mesma.

Neste modelo, os planos são muito bem orquestrados com o fim de alcançar os propósitos previamente definidos. Todavia, o que se percebe é que boa parte dos ditos “propósitos” são próprios do mundo dos negócios, e não estão fundamentados nos princípios do reino de Deus. Sendo assim, visam prioritariamente à projeção da corporação e seus líderes, pois os tais acabam recebendo a glória pelos resultados. Aquilo que deveria ser a manifestação do Corpo de Cristo, com sua beleza, simplicidade, diversidade e poder; acaba se tornando uma espécie de “empresa de entretenimento religioso”. Isso é lamentável!
Para uma reflexão consciente, destacamos algumas das quais consideramos ser características próprias desse “negócio”, que não devemos confundir com a Igreja.

1. O desenvolvimento dos negócios propostos pela “igreja” empresa, centram-se numa liderança personalista. O líder principal é uma espécie de “guru”, dotado de revelações e poderes “especiais” (“ungidão”), que o colocam num patamar bem acima dos demais, além de transformá-lo em alguém imune a erros e questionamentos. Muitos se tornam celebridades do mercado gospel, sendo capazes de vender os mais variados produtos em nome da “fé”.

2. Ênfase vergonhosa na arrecadação de recursos para a manutenção e expansão dos projetos. Em muitos casos os programas e as supostas bênçãos, mais se parecem os “nichos da deusa Diana”, os quais eram fonte de grande lucro para o ourives Demétrio (ver At 19.23-27). A maior parte desses “ministérios” trabalha com metas de arrecadação, transformando seus porta-vozes em verdadeiros pedintes, exploradores do povo e vendedores de amuletos religiosos. As novas metas são sempre divulgadas, mas dificilmente ocorre prestação de contas acerca dos valores arrecadados e a aplicação dos mesmos.

3. Forte apelo emocional com foco em ministrações mais parecidas com palestras de auto-ajuda do que com a proclamação das Escrituras. Os “pregadores” se destacam pela habilidade em contar piadas e fazer o povo dar risadas, além de repetirem jargões próprios do mundo motivacional, visando massagear o ego da platéia e mantê-la cativa de seus idéias mercadológicos.

4. Super valorização das estratégias (modelos) de crescimento, acima dos princípios fundamentais da fé cristã. Há programas para todos os gostos e públicos. Geralmente é o público alvo quem determina que tipo de programação será realizada. A igreja empresa procura se adaptar e satisfazer às necessidades das pessoas, a fim de alcançar suas metas de expansão.

5. Centralidade em grandes eventos realizados em prédios (templos) equipados com o que há de mais moderno em equipamentos, com objetivo de agradar freqüentadores cada dia mais exigentes. Há uma constante busca por maiores prédios e maior visibilidade em um determinado local. Com isto, as pessoas se tornam meros números nas estatísticas, além de potenciais contribuintes para o avanço do negócio.

Estas são apenas algumas das muitas características da igreja empresa. Um olhar sensato sobre as mesmas será suficiente para concluirmos que tal modelo, em muito destoa da Igreja que deve se expressar como organismo vivo, e não como instituição empresarial.
Que Deus nos ajude a não aceitarmos que o empreendedorismo do meio gospel, nos transforme em meros consumidores de programas e produtos, ao invés de celebrarmos a simples e transformadora comunhão com Deus e com nosso próximo.

Riva

sábado, 27 de novembro de 2010

A IGREJA É UM PRÉDIO? por Riva dos Santos

Infelizmente, a grande maioria ainda confunde a Igreja com um local físico. Tal herança religiosa tem perdurado ao longo dos anos, a ponto de muitos utilizarem expressões como: “ir à igreja”, “construir a igreja”, “pregar na igreja”; fazendo referencia ao prédio. Na verdade essa é uma idéia muito mais ligada ao modelo de adoração do Antigo Testamento; já que no Novo Testamento o que vemos é a igreja ocupando as casas, no templo que havia em Jerusalém (At 2.47), sinagogas e outros; mas, não encontramos os discípulos afirmando que tais ambientes era a igreja. Para eles, estava muito claro que a igreja era um organismo vivo que pode se reunir em lugares diversos, mas jamais ser confundida com os mesmos (ver Rm 12.3-8; 1 Co 12.12-31).

Não vejo problema algum em a igreja utilizar um prédio ou casa para se reunir, a final, se quisermos estar juntos, deveremos nos encontrar uns com os outros, e isto demandará um local específico. No entanto, o local no qual nos reunimos não é a igreja. A igreja é individualmente cada crente e coletivamente a reunião dos crentes, independentemente do local de reuniões.

Você pode estar dizendo: “Eu sei disso!” Eu até quero acreditar que muitos realmente saibam, mas esse conhecimento não tem se refletido na prática, pois o que vemos é uma obsessão por construir “templos”, alugar grandes e vistosos prédios, e o que é pior, pregar uma vida de fé centrada num local (“templo”). Para muitos, implantar uma igreja, nada mais é do que construir, comprar ou alugar um novo prédio, equipá-lo, colocar uma grande placa na fachada, e marca a inauguração. Isso é tão sério que se o prédio acaba interditado por alguma irregularidade ou dano estrutural, rapidamente surge alguém dizendo: “Fecharam nossa igreja!”

O fato de julgarmos que o espaço físico ocupado pelas reuniões da igreja, é a própria igreja, tem taxado aqueles que podem apenas ter deixado de freqüentar as reuniões em um determinado local formalmente chamado de “templo” (“igreja”), como “desviados”. Tais pessoas podem estar vivendo o Evangelho de maneira profunda, mas, o simples fato de não estarem mais dispostas a viver centradas neste ou naquele local, já é suficiente para serem consideradas como sem igreja.


Isso é lamentável! Se compreendermos que a igreja é um organismo (o corpo de Cristo) estaremos cientes que é impossível alguém que uma vez fora colocado nesse corpo (Igreja), deixá-lo. Um verdadeiro crente pode até não viver sob o sistema desta ou daquela instituição (“igreja”), mas isto jamais significará que o mesmo tenha deixado a Igreja. Quem está na Igreja corpo de Cristo, não depende de uma instituição humana para ingressar ou deixar a mesma. Só não está na Igreja, quem não está em Cristo.

Volto a afirmar que não sou contrário a utilização de prédios, casas, salas, etc. Estou apenas dizendo que não encontramos base no Novo Testamento para afirma que a Igreja é um local (um prédio). O espaço físico é apenas o local no qual a igreja se reúne, mas nunca foi, nem jamais será a Igreja. Na perspectiva do NT, o “templo do Espírito” é individualmente cada pessoa regenerada pela graça divina (ver 1 Co 3.16, 17, 6.19,20; Rm 8.9-16). A verdadeira “casa de Deus” é a vida de cada discípulo de Jesus. Quando nos conscientizamos dessa verdade, e passamos a viver com base na mesma, nos tornamos os “verdadeiros adoradores que o Pai procura” (ver Jo 4.19-24). Pessoas que O adoram independentemente do local onde estejam reunidas.
Sigamos esse nobre desafio! Pense nisso!

Riva

terça-feira, 20 de julho de 2010

O CAMINHO DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO (1 Coríntios 13) II Parte - por Riva


Conforme abordado na primeira parte desta reflexão, o caminho do evangelho de Jesus Cristo, não consiste apenas em questões voltadas ao carisma, saber ou prática de boas obras. Seguir o roteiro traçado pelo Mestre implica na compreensão do “caminho sobremodo excelente”. O amor é a marca distintiva entre o verdadeiro e o falso evangelho, e o amor a ser vivenciado no caminhar cristão, não se trata de uma mera paixão ou entrega impulsiva, mas sim, do modelo de vida e serviço praticados por Jesus.

Ainda que Jesus tenha se manifestado com poder, e ensinado com sabedoria enquanto caminhava fazendo o bem; ele não fazia nenhuma destas coisas com o fim de se autopromover ou demonstrar o quanto era “espiritual”. Tais atitudes decorriam de seu coração estar cheio de amor. Ele amava o Pai, e consequentemente amava aqueles a quem o Pai o enviara. Durante sua peregrinação terrena, Jesus trilhou o “caminho sobremodo excelente”, e a partir dele, este caminho tornou-se rota obrigatória a todos quantos desejarem ser do Evangelho.

Na ótica paulina, estava claro que tipo de amor era esse. Ágape é o amor comprometido que nos convida ao compromisso na caminhada. Isso nos leva muito além do carisma, do saber e das boas obras, nos colocando na seguinte trilha:

Trilhar o caminho do Evangelho de Jesus Cristo implica em estarmos dispostos a não vivermos mais para nós mesmos (v. 4-6). Esse foi um dos principais ensinos do Senhor para os seus discípulos (ver Mt 16.24-26). Naturalmente falando é próprio do ser humano viver em função de seus próprios desejos. Por isso no “caminho sobre modo excelente” precisamos de coisas como: paciência, benignidade, não arder em ciúmes, não nos ensoberbecermos, deixar de viver em função dos nossos próprios interesses, nos conduzindo como convém e não nos ressentindo do mal.

Quando pela graça divina, andamos no caminho que o evangelho nos propõe, inevitavelmente teremos de encarar tais realidades. Isso demonstra como é diferente esse caminho, daquele apresentado por muitos propagadores de facilidades e “bênçãos”. No Evangelho de Jesus Cristo não há lugar para entronização do eu, nem promessas de satisfação de todos os desejos humanos. Deus não é um tipo gênio da lâmpada. Ele não nos chama para um viver em clima de magia, mas para a pura realidade da vida, com seus encontros e desencontros, ventos favoráveis e contrários. O “caminho sobremodo excelente” é o caminho da vida, e o caminho da vida tem uma passagem obrigatória, o amor.

Trilhar o caminho proposto por Jesus, também implica em buscarmos a justiça e a verdade (v. 6). Esse parece ser um caminho até certo ponto natural àqueles que andando no evangelho vão se tornando menos centrados em si mesmos, e como consequência, mais parecidos com o Mestre.

No “caminho sobremodo excelente”, justiça e verdade são aspectos fundamentais para um viver sensato e maduro. Pensar em amor sem estes dois elementos é um romancear. É dissolvê-lo do seu real significado bíblico, pois o Deus que é amor, sempre será justo e verdadeiro.
Devemos considerar as palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mt 5.6). Em meio a tantas injustiças e mentiras, faz-se necessário que as pessoas do Evangelho de Jesus Cristo sejam reconhecidas muito além de seu carisma, saber ou prática de boas obras. Enquanto não formos expressão visível de justiça e verdade em nossos relacionamentos nesse mundo, estaremos como muito bem escreveu John MacArthur: “Envergonhando o Evangelho.”

Reconheçamos nossa real condição. Todos somos pecadores (ver Rm 3.9-31), e mesmo arrependidos, ainda continuamos pecadores, e como tais será impossível sermos justos e verdadeiros por nossa própria vontade. Naturalmente, sempre seremos inclinados à injustiça e mentira, mas pela ação do Espírito, Deus nos conduz em justiça e verdade. Somente por sua graça e misericórdia poderemos trilhar esse caminho, e amar como somos amados por Ele.

As palavras de Paulo ainda nos fazem considerar que, trilhar o caminho do Evangelho implica em encararmos uma jornada de grandes desafios (v. 7). Para aqueles que buscam facilidades, e um viver sem grandes obstáculos, estas parecem não serem as expressões mais atraentes. Que atração há em “tudo sofrer”, se muitos preferem um suposto “evangelho”, sem cruz e sem sofrimento. Querem amor, mas não o amor que lhes convide ao sofrer. A moda é apelar: “Pare de sofre!” Enquanto o caminho do Evangelho de Jesus Cristo diz: experimente o amor capaz de “tudo sofrer”.

Na caminhada proposta por Jesus, o amor sustenta a fé, e esta sustenta o amor. Quem é amado e ama de verdade, nunca pára de crer. Neste caso a fé não é circunstancial, nem vítima de fatores meramente “positivos”. No “caminho sobremodo excelente” a nossa fé é diariamente desafiada pelas circunstâncias aparentemente contrárias, mas jamais vencida por elas.

Quem é capaz de tudo sofrer sem deixar de crer, torna-se um sério candidato a “tudo esperar”. Manter firme a esperança é um dos maiores desafios da caminhada cristã (ver Rm 5.3, 4). A esperança se mantém viva no coração daqueles que vivem convictos de estarem caminhando por um roteiro inconfundível, que nos conduzirá à glorificação eterna.

O último desafio é “tudo suportar”. No caminho do amor, Jesus suportou todas as aflições, até a morte na cruz (ver Fp 2.5-8). Na verdade, quer queiramos ou não, sempre estaremos sendo suportados, e sendo convidados a suportar. Todavia, não conseguiremos fazê-lo apenas pelo carisma, saber ou prática de boas obras. Tal desafio só será vencido pelo amor.
Que o Deus soberano nos dê graça nessa caminhada diária.

Beijo na testa!
Riva

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O CAMINHO DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO (1 Coríntios 13) Parte I


Do ponto de vista da fé carismática, a igreja de Corinto poderia ser considerada uma comunidade expressiva e “poderosa”. Em suas cartas à esta igreja, Paulo ocupou extensos trechos para tratar de temas diretamente relacionados às manifestações do Espírito. O interesse dos crentes pelas manifestações carismáticas era tão grande, que muitos extrapolavam no mau exercício das mesmas. A despeito da forte inclinação carismática, ao que tudo indica, lhes faltava sabedoria e maturidade na compreensão e administração do poder.

Se tal comunidade fosse uma realidade visível em algum espaço geográfico dos nossos dias, certamente não seriam poucos os que peregrinariam até lá, a fim de buscar uma suposta “nova unção” ou uma “nova estratégia de crescimento”. Outros por certo diriam coisas do tipo: “Que igreja poderosa”, “a mão de Deus está ali”, “é fogo puro”, “reteté”, e tantos outros jargões do mundo evangélico.

É evidente que não podemos negar que a igreja de Corinto tinha forte ligação com o carisma, e que tal fator gerou uma serie de bênçãos e continua gerando no decorrer da história da Igreja. Dito isso, convém considerarmos também questões não muito agradáveis que também estavam presentes nessa comunidade, mesmo sendo ela tão carismática. Dentre outras coisas, Paulo destaca a imaturidade dos crentes (cap. 3.1, 2), as divisões (cap. 3.3-9), imoralidade (cap. 5), falta de sensibilidade para com os menos favorecidos e suas necessidades (cap. 11.17-34) e a crise instalada na manifestação pessoal e publica dos dons (cap. 12 e 14).

Neste contexto paradoxal de manifestações do Espírito e manifestações carnais, o apóstolo propõe aos corintos, “um caminho sobremodo excelente”. Que caminho é esse? Esse é o caminho do Evangelho de Jesus! O caminho da verdadeira fé cristã! O caminho do ágape (amor)!

Com isto podemos aprender algumas lições práticas que acredito terem sido propostas por Paulo àquela comunidade, e da mesma forma a todos quantos desejarem trilhar o caminho do Evangelho de Jesus Cristo:

Em primeiro lugar, o contexto e as afirmações paulinas nos instruem que, no caminho do Evangelho de Jesus Cristo, não basta viver das ou pelas manifestações carismáticas (v. 1, 2). “Falar a língua dos anjos e dos homens” e “profetizar”, por mais maravilhoso que seja não é suficiente para demonstrar nossa verdadeira conversão ao evangelho. Na ótica de Paulo, “se não tiver amor”, é apenas brilho e barulho exterior, “é como bronze que soa ou como címbalo que retine.

O carisma por si só não basta. Quem deseja andar na trilha do Mestre, não poderá viver apenas das manifestações carismáticas, pois as mesmas sem amor significam pouca coisa àqueles que só precisam de uma coisa, serem amados. Ser um crente carismático sem evidenciar o amor acima de todos os dons é viver enganado por um “poder” sem poder de Deus.

Segundo, no caminho do Evangelho de Jesus Cristo, todo conhecimento e sabedoria humana ou espiritual não são suficientes para um viver relevante (v.1, 2). Em Corinto, havia uma forte influência do pensamento grego, e a busca pelo saber era algo constante, a ponto de muitos crentes terem pautado sua fé, nesta questão. Concordo com as palavras de John Stott: “Crer também é pensar”. Todavia, me mantenho distante daqueles que buscam uma fé apenas no plano racional.

Paulo era um mestre. Não lhe faltava sabedoria, mas conhecendo a graça do caminho do evangelho, compreendeu que a lei maior não consiste na mera letra: “A letra mata, mas o Espírito vivifica”. Nas palavras de Jesus, a lei maior, é a lei do amor, manifesto para com Deus e com o nosso próximo (ver Mc 12.28-34).

A verdadeira sabedoria no caminho do evangelho é revelada pelo o amor que manifestamos em nossos relacionamentos. Não é apenas uma questão de saber mais ou menos. O verdadeiro cristão não é aquele que detém mais conhecimento teológico, pois sem amor: “nada serei”. Busquemos o saber, mas não permitamos que o mesmo sufoque o amor.

Em terceiro lugar, Paulo nos adverte que, o caminho do Evangelho de Jesus Cristo não é um mero praticar de boas obras (v. 3). Muitas pessoas deixam de lado o carisma e o saber, e se voltam apenas para as “boas obras”. Vivem piedosamente, mas ainda assim, correm o risco de não estar trilhando o “caminho sobremodo excelente”. Boas obras sem amor pode ser um dos piores sinais de egoísmo e busca pessoal por reconhecimento. O amor é a força motriz para ações que glorificam a Deus e transformam a sociedade.

Paulo é radical em sua abordagem dessa questão, afirmando que mesmo que sejamos capazes de fazer aquilo que o “jovem rico” não fez (ver Mc 10.17-20), distribuir todos os nossos bens entre os pobres; e chegarmos ao extremo de entregar o nosso próprio corpo para ser queimado, “se não tiver amor, nada disso me aproveitará.” É isso mesmo. Sem amor, toda entrega é entrega sem valor, sem proveito. Para Deus a essência não está no que entregamos, mas no que nos dirigi a fazê-lo.

Refletindo nestas três questões, podemos concluir que há uma enorme diferença entre o caminho do Evangelho de Jesus Cristo e aquele proposto por muitas expressões “evangélicas” da atualidade. Sendo assim, todos nós somos chamados pelo Soberano Deus, a trilharmos esse “caminho mais excelente”. Para andarmos por ele, devemos reconhecer nossa total incapacidade e méritos pessoais, confiando inteiramente em sua graça e capacitação pelo Espírito. É ele quem derrama o amor de Deus em nossos corações (Rm 5.8).

Acima do carisma, do saber e das “boas obras”, sejamos do Evangelho. O Evangelho que acima de todas as coisas é um chamado aos amados de Deus, para que amem como são amados por Ele. Vamos lá “trilheiros” da fé!

Beijo na testa! Riva

quarta-feira, 2 de junho de 2010

IGREJA, ORGANISMO RELACIONAL parte 3 - Riva


A MANIFESTAÇÃO RELACIONAL DO ORGANISMO PARA COM O HUMANO

(Atos 2.42-47)

Na caminhada diária da igreja orgânica a relação com o divino não é uma via de mão única, pois não se trata apenas da observância das questões acima descritas. Além destas, há elementos que descrevem nossa relação interpessoal, a vida comunitária ao lado dos demais membros do Corpo.
Notemos com atenção algumas expressões da forte relação entre os cristãos da igreja primitiva:

“Perseveravam na comunhão” (v. 42). A comunhão para eles não era o resultado de nenhuma programação ou evento, mas sim, a consequência natural da convivência que tinham uns com os outros. Era fruto do amor de Deus, derramado em seus corações por meio do Espírito Santo (ver Rm 5.8). O próprio texto nos mostra como essa comunhão se expressava entre eles. “Todos os que creram estavam juntos” (v. 44). Quando temos afinidade uns com os outros é natural desejarmos e nos esforçarmos para estar juntos. A convivência é algo natural entre os membros da Igreja Corpo de Cristo.

Infelizmente a visão institucionalizada da igreja tem gerado sérios transtornos à relação interpessoal entre os cristãos. Isso porque nesta esfera pessoas passam a ser números, freqüentadores e possíveis contribuintes, mas raramente são conhecidas e tratadas como sacerdotes (universal), pessoas dotadas de dons e, portanto, aptas para compartilhar com os demais. “Tinham tudo em comum” (v. 44). Eles tinham um senso de comunhão que ia muito além do estar juntos. Os cristãos da igreja primitiva se comprometiam de tal forma uns com os outros, a ponto de expressarem cuidado, uns para os outros (v. 45). Havia entre ele disposição para partilhar seus bens, a fim de todos serem supridos em suas necessidades básicas. Podemos dizer que entre eles se manifestava o verdadeiro amor cristão.

Que coisa maravilhosa! Como se isso não fosse suficiente para nos convencer do fato de que a igreja que Deus deseja que sejamos e vivenciemos é esta expressão de um organismo vivo com sua dupla relação: buscando o divino e o humano concomitantemente; o essa passagem ainda nos apresenta sinais claros e incontestáveis da benção divina, sendo manifestada entre aqueles irmãos. Observemos algumas:

“Em cada alma havia temor” (v. 43). Quando há harmonia na existência orgânica da igreja, seus membros compreendem e se submetem respeitosamente, sem reservas ao senhorio de Cristo. Eles respeitavam a Deus, respeitando uns aos outros e vivendo como verdadeiros irmãos e membros do Corpo. Talvez, a falta de temor em nossos dias reflita nossa inclinação para um viver desconexo com o padrão estabelecido por Cristo para Sua Igreja. Quem sabe estejamos temendo mais as instituições humanas, as autoridades humanas, as construções humanas; do que a Pessoa de Cristo. Penso que, se houver temor em cada alma, viveremos como verdadeira Igreja de Cristo, um organismo relacional.

“Muitos sinais e prodígios eram feitos por intermédio dos apóstolos” (v.43). Sinais e prodígios, duas coisas que atraem a atenção de uma parcela expressiva dos cristãos, principalmente aqueles da linha carismática. Na prática isso é visível com surgimento de ministérios que até parecem deter certa exclusividade para operar tais sinais. Como nos dias de Jesus, muitos “buscam sinais”. O que me chama atenção nesse relato dos primeiros movimentos da igreja primitiva é a naturalidade com que os sinais ocorriam, e como eles (principalmente os apóstolos) encaravam os mesmos. Não era comum entre eles a super valorização dos sinais e milagres. Não encontramos nenhum tipo de propaganda baseada nos mesmos. Os apóstolos não se consideravam mais “ungidos” por terem realizado algum sinal, mas ao contrário, deixavam claro que aquilo era fruto da manifestação do poder divino (ver At 3.11-16).

Se crermos, de fato na soberania divina, e nos sujeitamos a ela, não podemos negar que o Senhor poder realizar qualquer sinal ou prodígio, segundo sua vontade. Era assim que os primeiros cristãos encaravam tal fato. Isso não pode ser uma ferramenta de marketing, nem uma coisa assustadora, mas algo plenamente administrável pelo Deus soberano.

“Contando com a simpatia de todo o povo” (v. 47). Uma igreja simpática. Como isso era possível? Vejo aqui, mais um sinal visível da graça divina sendo ministrada por meio daquele organismo relacional. Eles não se tornaram simpáticos pelo fato de não terem expressado sua fé, e pensamentos com clareza; mas acredito que o grande diferencial aqui, foi à maneira como eles se relacionavam uns com os outros. Eles não se afastaram dos seus contextos, nem dos seus familiares, antes expressavam o amor de Cristo a eles.

“Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (v. 47). Este é outro ponto bastante destacado entre os cristãos em todos os tempos. Não são poucos os que buscam a todo custo o “crescimento” da igreja, mesmo sem avaliar muitos dos métodos utilizados para tal. Olhando para igreja primitiva, que método de crescimento eles utilizaram? De onde veio tal crescimento numérico? Parece que as respostas são óbvias: Eles apenas se relacionavam com Deus e um com os outros, e “enquanto isso”, as pessoas eram salvas.

Nunca é demais salientar que a salvação sempre é operada por meio da graça divina, mediante a fé (ver Ef 2.8, 9). Cabe à Igreja a missão de propagar a mensagem do Evangelho, mas não lhe diz respeito à tarefa de convencer as pessoas. Portanto, devemos testemunhar de Cristo, sem reservas, sobretudo com nosso estilo de vida genuinamente cristão.

Meu sincero desejo é que vivamos como organismo relacional para que em todas as coisas o nome de Cristo seja glorificado. É momento de repensarmos nossa postura, a fim de não nos tornarmos uma estrutura engessada pelos vários sistemas humanos. Seja Igreja, como a Igreja deve ser!

Beijo na Testa!
Riva dos Santos

Veja primeira parte aqui
Veja segunda parte aqui

sexta-feira, 21 de maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

IGREJA, ORGANISMO RELACIONAL parte 2 - Riva dos Santos


A MANIFESTAÇÃO RELACIONAL DO ORGANISMO PARA COM O DIVINO
(Atos 2.42-47)


Sendo Corpo de Cristo, a Igreja é antes de tudo um organismo que existe e se movimenta para Deus. A razão primordial é adorar a Deus em “espírito e em verdade” (ver Jo 4.19-24). Toda a vida desse organismo depende dessa fonte, sem a qual ele não existe, nem pode se expressar de maneira saudável e transformadora neste mundo. Vejamos algumas praticas da igreja primitiva, que demonstra o quanto eles viviam em Deus e para Deus:


“Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (v.42). Esta doutrina era aquilo que os apóstolos dos dias de Jesus (os doze) ensinavam com base no que aprenderam com o Mestre. Não se tratava de uma suposta “nova revelação”. Era o ensino de Jesus, historicamente fundamentado e relevante para um viver capaz de expressar a vontade de Deus.


É bom que se diga que a “doutrina” (palavra) dos “apóstolos” da atualidade não pode ser tratada em pé de igualdade com a dos doze (e Paulo). Na verdade, devemos seguir o conselho paulino: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja maldito” (Gl 1.8). Infelizmente há muita gente indo além, anunciando mensagens espúrias, e o que pior, não são poucos os que acreditam e abandonam a verdade.


Não há como nos relacionarmos bem com Deus, a menos que estejamos sempre predispostos a dar ouvidos à Sua Palavra. O organismo igreja só pode se mover corretamente se deixar que a os princípios verdadeiramente bíblicos norteiem sua caminhada. Os crentes primitivos não negociavam isso porque eles criam num relacionamento com Deus por meio da sujeição à doutrina que Este havia lhes confiado.


“e nas orações” (v.42). O que é a oração? Sem dúvida essa é uma pergunta para a qual obteremos respostas das mais diversas. É possível que a diversidade de respostas quanto a esse tema, seja um sinal claro da maneira como muitos de nós vivenciamos tal prática. Não acho que o problema resida na ausência de informações ou no fato da oração não estar sendo “praticada”, mas sim, no que geralmente é ensinado sobre o tema, e maneira como a grande maioria ora.


Para muitos de nós a oração passou a ser um grande amuleto religioso. Um meio para obter respostas as suas indagações pessoais, e “conquistar no mundo espiritual”. Outros por sua vez, se valem da oração para cumprir seu ritualismo religioso, que diz coisa do tipo: “você só será um bom cristão se orar pelo menos uma hora todos os dias”.


Mas será que era assim que a igreja primitiva perseverava nas orações? É evidente que não! Para eles, a oração era uma ação relacional, um diálogo com Deus, e não uma pratica religiosa. Muitos deles receberam o ensino de Jesus, sobre o tema (ver Mt 6.5-15). Devemos considerar que Jesus começa dizendo: “Quando orardes, não sereis como os hipócritas...” (v. 5). Orar é se relacionar com Deus como um verdadeiro adorador, e não como um pedinte ou alguém que vai a um supermercado religioso com sua “lista de compras” (pedidos).

Essa oração é feita em todo tempo, em todo lugar e de múltiplas formas. É expressão de vida tanto nos momentos alegres quanto em meios as tribulações (ver At 4.23-31).


“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa” (v.46). As reuniões coletivas sempre foram e continuarão sendo uma marca do Corpo de Cristo. Como organismo vivo e relacional, ela também se expressa por meio dos ajuntamentos, das celebrações. É verdade que em muitos casos, principalmente da igreja organizacional, tais reuniões reflitam erroneamente a própria razão de ser do grupo, a ponto de muitos afirmarem que ir à reunião é “ir à igreja”, o culto é a reunião, etc.


Novamente vemos uma disparidade com o conceito de reunião da igreja primitiva, pois eles encaravam os encontros como momentos de alegria e de compartilhar mútuo. Todavia, as reuniões coletivas não eram o cerne da existência da comunidade, mas apenas uma das partes de sua expressão visível.


Nos ajuntamentos eles experimentavam ao mesmo templo da dupla face relacional como comunidade cristã. No templo e nas casas, eles tanto se relacionavam com Deus por meio de orações, doutrina e manifestação de dons, como também uns com os outros, através de conversas, ajuda mútua, partir do pão, etc.


Na atualidade nossos ajuntamentos parecem apenas focar uma dessas esferas. Nas reuniões as pessoas são convocadas a “prestar culto a Deus”, e embora estando juntas, pouca coisa acontece na esfera de ser benção ao outro, orar uns pelos outros, compartilhar uns com os outros. Penso que isso se dá principalmente pelo fato de entendermos a igreja como um lugar aonde vamos, o culto com uma reunião da qual assistimos (a maioria passivamente). Neste sentido, as pessoas passam a ser freqüentadores, audiência, contribuintes em potencial, não com seus dons espirituais, mas com seus recursos materiais. É evidente que precisamos rever nossos ajuntamentos, a fim de, quem sabe voltarmos àquilo que os mesmos nunca deveriam ter deixar ser.

Continua...

Riva dos Santos

Veja primeira parte aqui

IGREJA, ORGANISMO RELACIONAL (Atos 2.42-47) - Riva dos Santos


É indiscutível que Livro de Atos apresenta relatos das primeiras experiências dos discípulos, buscando viver em comunidade, sem a pessoa de Jesus, para orientá-los na caminhada. Claro que Jesus se fazia presente, mas agora, por meio do Espírito Santo, que fora derramado em abundância em suas vidas (At 2.1-13).


Essa comunidade que logo se deparou com a adesão mássica de cerca de três mil pessoas, teve de encarar o grande desafio de existir como organismo vivo e relacional. Isso fazia sentido, pois afinal, se tratavam de pessoas reunidas em torno da pessoa de Jesus. Neste caso, eram evidentes as necessidades de cada indivíduo, sendo encaradas como importantes na caminhada diária de todos. Eles demonstravam um amor intenso para com Deus, e uns com os outros. Isso se expressava de maneira natural no que falavam e faziam, e isso se tornou um grande sinal da manifestação divina para aqueles com os quais os discípulos se relacionavam.


Embora na atualidade estejamos muito distantes de grande parte do que a igreja primitiva experimentou; o que tem sido até capaz de produzir em muitos (para não dizer a maioria) certa repulsa aos valores essenciais vividos pela Igreja, quando do seu nascedouro, nunca é demais reafirmar que é este o modelo de igreja que devemos seguir.


Convencidos disso, devemos então pensar na Igreja como um organismo vivo (Corpo de Cristo), e não como uma instituição ou negócio humano. Ainda que a Igreja seja formada por homens (pessoas), sua essência é divina. Trata-se de um Corpo vivo, que deve estar completamente sujeito a cabeça, Cristo Jesus. Apenas Jesus tem toda autoridade e domínio sobre a Igreja, pois é Ele quem a dirige conforme sua vontade soberana.


Esse organismo não é estático, mas vivo e expressivo, pois é formado por muitos membros (ver 1 Co 12.12-31). Sua expressão viva se dá por meio dos relacionamentos ou “cooperação de cada parte”. A manifestação relacional desse organismo se dá em duas grandes esferas, a saber:

1 para com o Divino;
2 para com o humano.

Continua...
Riva dos Santos

quinta-feira, 6 de maio de 2010