"A vida cristã não é resultado da escolha do cristão, e sim sua resposta ao fato de que Deus o escolheu" (James M. Houston)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

CONTRIBUIÇÕES



      Em minhas andanças pelas vias fora da instituição igreja, me deparo com as mais diversas pessoas e situações. Muitas são as oportunidades de aprendizado, desenvolvimento de ideias e ações práticas, no sentido de clarificar o entendimento a respeito de temas comuns àqueles que, buscam trilhar o caminho do evangelho de Jesus Cristo.
      Os temas mais frequentes estão diretamente ligados às contribuições financeiras, principalmente no que se refere a pratica dos “famosos” dízimos. Os questionamentos da maioria dizem respeito à maneira como são feitos os apelos (verdadeiras apelações) e a forma estranha (pra não dizer outra coisa) como muitos aplicam tais recursos. De fato, este é um tema que requer muita lucidez e esclarecimento da nossa parte, conforme nos adverte Paulo: “Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males...” (1 Tm 6.10). No meio evangélico os males são inúmeros, e merecem ser pautados em ocasião oportuna.
Todavia, no momento me deterei em algumas considerações salutares para aqueles que buscam viver e proclamar o evangelho fora dos portões das instituições religiosas.
1.      Não é coerente, nem saudável estabelecermos assuntos ligados às contribuições como prioritários para questionamentos e debates no processo de compreensão do viver cristão livre da instituição igreja.
A meu ver, aqueles que se apegam em demasia ao tema, demonstram claramente que a questão em foco, de alguma forma tem se tornado uma espécie de laço em seus corações. Muitos infelizmente pensam que a expressão do evangelho fora dos guetos institucionais implica apenas no descompromisso com aquela antiga e imprópria prática de “dizimar” e ofertar segundo os moldes do Antigo Testamento.
Considero equívocos, tanto o contribuir sob as regras estabelecidas pelas instituições, erroneamente fundadas em promessas de prosperidade e possíveis sanções no caso da chamada “infidelidade”; quanto à expressão de apego ao dinheiro, manifesto no simples ato de se revoltar contra o modelo de contribuição institucional, sem compreender o assunto à luz da Bíblia, e estabelecer práticas saudáveis e transformadoras.

2.      Deixar o modelo de contribuições pautado nas exigências da religião judaica não significa abandonar o proposto pelo ensino neotestamentário. O fundamental é fazer distinção entre os referidos contextos, entendendo que o que está mais próximo da nossa realidade é a experiência vivida pelos cristãos do primeiro século.
Neste caso em particular duas afirmações precisam ser feitas: primeiro, o NT não aboliu a pratica das contribuições; segundo, também não encontramos na caminhada dos primeiros cristãos a pratica dos dízimos conforme os moldes do AT. Não encontramos tal ensino entre os temas destacados por Jesus ou Paulo. A citação que alguns destacam com sendo uma sinalização de Jesus a favor do dízimo, trata-se na verdade de uma alusão às atitudes controversas dos escribas e fariseus (ver Mt 23.23).
A maneira como as contribuições eram feitas na caminhada não institucional da igreja primitiva nos convida a reflexões serias e respostas comprometidas. O que encontramos nas páginas do NT é um envolvimento muito mais intenso por parte de todos em resposta as necessidades manifestas (ver At 5.32-36).

3.      Diferentemente do que propunha a visão judaica centrada no templo, manutenção da estrutura e o suprimento dos levitas (sacerdotes e outros serviçais da estrutura), o NT prioriza a identificação e suprimento de necessidades pessoais. Havia um claro senso de comunidade e comprometimento uns com os outros. O foco era o relacionamento com Deus e as pessoas, e isso se dava de muitas maneiras, entre as quais se destacava a ajuda mutua: “Ninguém considerava unicamente sua nenhuma das coisas que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham” (At 4.32). O desapego às coisas impulsionava o pleno exercício da misericórdia entre os irmãos.
Notamos claramente que o ter não era condenado, contato que as pessoas soubessem administrar suas posses em favor do suprimento dos menos favorecidos, como as viúvas e os órfãos.
Vale a pena dar uma olhada com atenção nas palavras de Paulo (ver 2 Co 8.1-9.5) demonstrando a maneira como os cristãos se manifestavam generosamente em relação aos apelos por contribuições para  socorrer irmãos e comunidades necessitadas.
Quando necessidades pessoais são identificadas nos cabe agir no sentido de cooperar voluntariamente: “Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria” (2 Co 9.7).

4.      Outro aspecto que merece destaque é o comprometimento coletivo diante das necessidades. Isso é próprio da Igreja, quando a mesma se manifesta ao mundo, sem depender das regras impostas pelas instituições religiosas. Devemos compreender que o fato de sermos cristãos nos torna corresponsáveis diante das questões relacionadas ao Corpo e seus membros (ver 1 Co 12.12-30). Se alguém estiver “sofrendo” e não nos manifestarmos a fim de ajudar, demonstraremos atitude desconexa com as bases do verdadeiro cristianismo.
O simples fato de compreendermos corretamente e não nos submetermos a pratica dos “dízimos”, não pode ser em hipótese alguma, desculpa para a falta de atitude diante de necessidades reaias reconhecidas individual ou coletivamente. O NT nos coloca diante de responsabilidade muito maior do que a imposta pela antiga aliança. Agora, não basta o “simples” e institucional 10%. Somos chamados à adoração com tudo o que estiver em nossas mãos, usando como instrumento para glorificar a Deus por meio da generosidade.

5.      Nosso entendimento a respeito desta importante e tão polemica temática deve considerar as palavras de Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). O mestre fez questão de enfatizar o poder inerente às coisas materiais, e como as mesmas podem exercer domínio sobre nós.
As riquezas (bens materiais) se constituem um poder capaz de atrair a devoção completa por parte daqueles que por elas se deixam dissuadir. Suas estratégias são as mais atraentes possíveis, focadas na satisfação dos desejos imediatos e garantias transitórias. As evidencias dessa triste realidade estão por toda parte, inclusive no meio religioso evangélico onde ecoam apelos desenfreados pelo “ter”, “conquistar”, “prosperar”, e coisas do tipo. Os propagadores dessa mensagem, não apenas se deixaram dominar por “Mamom”, como instigam outros a fazerem o mesmo.
A verdade é que há uma estrutura montada, e esta depende quase que totalmente das contribuições financeiras para sua manutenção. Sendo assim, parece não restar outra alternativa aos lideres religiosos, a não ser aceitarem a proposta de “Mamom”, e automaticamente (mesmo afirmando o contrario) aborrecerem a Deus.
Voltemos ao evangelho! Aceitemos o convite que ele nos faz para sermos apenas e tão somente Igreja de Jesus Cristo! Ela não necessita das roupagens institucionais, do apego ao materialismo, de homens dominando homens, etc.
Voltemos à simples convivência em torno da Palavra, oração e comunhão! Que nossos encontros sejam parar comungar com Deus e uns com os outros, conforme o Espírito nos orientar. Isso basta!

Aos que tentam andar no caminho do evangelho, como eu.

Riva