"A vida cristã não é resultado da escolha do cristão, e sim sua resposta ao fato de que Deus o escolheu" (James M. Houston)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

SIMPATIA



“... e tendo a simpatia de todo o povo...” (At 2.47 - NVI)

Quando leio esse texto, atento para o contraste que o mesmo lança diante dos meus olhos. Jerusalém se agitava com o crescente número de pessoas professando a fé em Cristo, e passando a viver em torno de elementos estranhos à maioria: palavra, oração, comunhão, partir do pão (At 2.42). Tais fatores demonstravam a grande ruptura com o modelo religioso proposto pelo judaísmo. Entre os primeiros cristãos se manifestava um forte senso de comunidade, a adoração na vida e o pertencer uns aos outros.
Face a tantas e contundentes transformações, o que se percebia era o impacto que o novo estilo de vida causava naquela sociedade. Embora muitos rejeitassem o Cristo, e negassem tais manifestações como sendo verídicas; eram simpáticos com a maneira como os cristãos viviam. Que diferença com a realidade dos nossos dias! Enquanto o cristianismo primitivo era relevante e simpático à sociedade, na atualidade os denominados “cristãos” (sobretudo os evangélicos) na sua maioria parecem celebrar a antipatia. Seria esta uma das causas principais da irrelevância da chamada “igreja”?
Consideremos algumas características que tornavam os primeiros cristãos “simpáticos de todo o povo”:
Continuavam sendo gente. A conversão ao evangelho de Jesus Cristo não afetava a essência humana daquelas pessoas. Não lhes dava uma formatação diferente, a ponto de se distanciarem daqueles com os quais conviviam. Não rompiam suas amizades, promovendo a falsa separação entre “salvos e ímpios”. Não mudavam a maneira de falar (algo comum na atualidade), pois não havia o tal “evangeliques”. Pelo contrario, o que observamos em Atos dos Apóstolos e no histórico dos primeiros anos da caminhada cristã, é a efetiva participação dos cristãos na vida da cidade, enfrentando e respondendo às suas demandas.
O evangelho que propõe afastamento das praticas pecaminosas, não impõe barreiras separatistas entre cristãos e não cristãos. Não estabelece a “criação” de dois mundos (o dos crentes e o dos descrentes). A encarnação de Jesus aponta para a relação com os pares e a caminhada entre os mesmos. Trata-se de um modelo próximo das pessoas, integrado com a realidade vivenciada por elas.
O grande desafio é sermos que somos, caminharmos por onde caminhamos, convivermos com as pessoas próximas, em família, no trabalho e em todos os lugares. Como nos instrui Paulo: “Façam tudo para a gloria de Deus” (1 Co 10.31).
Viviam a igreja comunitária. Aqueles cristãos mantinham os vínculos entre si e a forte conexão com a comunidade, reunindo-se em grupos a partir das relações desenvolvidas ao longo da vida. Não construíam prédios, nem se distanciavam da realidade dos familiares e amigos. A igreja era comunitária, sensível às demandas daqueles que a constituíam e simpática.
É importante salientarmos que o fato de contarem com a “simpatia de todos” não significava o comprometimento da mensagem. Tal simpatia decorria do testemunho de cada cristão e da comunidade. Não havia programas, nem estratégias de marketing para torná-los atraentes. Era graça divina. Algo que fluía da vida.
Fica evidente que expressão orgânica da igreja, não apenas manifesta o real sentido da ecclesia, como também aproxima das pessoas. Nela, todos expressam suas virtudes e dilemas, buscando fortalecimento mutuo. A simplicidade e profundidade do evangelho manifestos na expressão não institucionalizada da Igreja glorifica ao Senhor e manifesta sua soberana vontade aos homens.
Eram diferentes pela diferença que o evangelho fazia, e não por imposição ou regras religiosas. É inegável que o evangelho produz profundas mudanças naqueles que nele creem (Rm 1.16). As mesmas fluem do nosso interior e se manifestam por meios de atos de justiça. Não se trata de mudanças decorrentes de meras praticas destes ou daqueles princípios religiosos. A história nos mostra que a simples religiosidade pode maquiar as aparências exteriores, sem gerar nenhum tipo de impacto na nossa inclinação perversa, aos moldes dos “sepulcros caiados”, descritos por Jesus.
O que havia de diferente e impactante na vida dos primeiros cristãos era a diferença que a mensagem do evangelho propagado pelos apóstolos, estava produzindo em seus corações. Isto lhes tornava pessoas livres da escravidão religiosa, com seus muitos preceitos e praticas. Não eram meros religiosos, e sim discípulos, adoradores inclinados a viver para a gloria de Deus. Era este estilo de vida não religioso que despertava a “simpatia de todo o povo”.
O evangelho não é cara feia ou rabugice, e sim, um chamado à verdadeira alegria. Nele encontramos razões para viver como Paulo: “... Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstancia...” (Fp 4.11). A alegria no evangelho independe das circunstancias, e isso faz diferença no ambiente onde estamos inseridos.
A graça divina manifesta na vida dos eleitos impulsionava os mesmos a viverem com base nos valores do evangelho. Por meio dela o Soberano gerava simpatia no coração do povo. Isto servia como testemunho e, “... E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos”  (At 2.47).
Cabe a nós seguirmos o bom exemplo da igreja primitiva, encarando os desafios inerentes ao ser gente, viver como Igreja e manifestar a nova vida que o evangelho gera a partir do nosso interior. Questões bastante complexas para pecadores como nós.

Aos eleitos, com carinho!

Riva 

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