Em
minhas andanças pelas vias fora da instituição igreja, me deparo com as mais
diversas pessoas e situações. Muitas são as oportunidades de aprendizado,
desenvolvimento de ideias e ações práticas, no sentido de clarificar o
entendimento a respeito de temas comuns àqueles que, buscam trilhar o caminho
do evangelho de Jesus Cristo.
Os temas mais frequentes estão
diretamente ligados às contribuições financeiras, principalmente no que se
refere a pratica dos “famosos” dízimos. Os questionamentos da maioria dizem
respeito à maneira como são feitos os apelos (verdadeiras apelações) e a forma estranha
(pra não dizer outra coisa) como muitos aplicam tais recursos. De fato, este é um
tema que requer muita lucidez e esclarecimento da nossa parte, conforme nos
adverte Paulo: “Pois o amor ao dinheiro é
a raiz de todos os males...” (1
Tm 6.10). No meio evangélico os males são inúmeros, e merecem ser pautados em
ocasião oportuna.
Todavia, no momento me
deterei em algumas considerações salutares para aqueles que buscam viver e
proclamar o evangelho fora dos portões das instituições religiosas.
1.
Não
é coerente, nem saudável estabelecermos assuntos ligados às contribuições como
prioritários para questionamentos e debates no processo de compreensão do viver
cristão livre da instituição igreja.
A
meu ver, aqueles que se apegam em demasia ao tema, demonstram claramente que a
questão em foco, de alguma forma tem se tornado uma espécie de laço em seus
corações. Muitos infelizmente pensam que a expressão do evangelho fora dos
guetos institucionais implica apenas no descompromisso com aquela antiga e
imprópria prática de “dizimar” e ofertar segundo os moldes do Antigo
Testamento.
Considero
equívocos, tanto o contribuir sob as regras estabelecidas pelas instituições,
erroneamente fundadas em promessas de prosperidade e possíveis sanções no caso
da chamada “infidelidade”; quanto à expressão de apego ao dinheiro, manifesto
no simples ato de se revoltar contra o modelo de contribuição institucional,
sem compreender o assunto à luz da Bíblia, e estabelecer práticas saudáveis e
transformadoras.
2.
Deixar
o modelo de contribuições pautado nas exigências da religião judaica não
significa abandonar o proposto pelo ensino neotestamentário.
O fundamental é fazer distinção entre os referidos contextos, entendendo que o
que está mais próximo da nossa realidade é a experiência vivida pelos cristãos
do primeiro século.
Neste
caso em particular duas afirmações precisam ser feitas: primeiro, o NT não
aboliu a pratica das contribuições; segundo, também não encontramos na
caminhada dos primeiros cristãos a pratica dos dízimos conforme os moldes do
AT. Não encontramos tal ensino entre os temas destacados por Jesus ou Paulo. A
citação que alguns destacam com sendo uma sinalização de Jesus a favor do
dízimo, trata-se na verdade de uma alusão às atitudes controversas dos escribas
e fariseus (ver Mt 23.23).
A
maneira como as contribuições eram feitas na caminhada não institucional da
igreja primitiva nos convida a reflexões serias e respostas comprometidas. O
que encontramos nas páginas do NT é um envolvimento muito mais intenso por
parte de todos em resposta as necessidades manifestas (ver At 5.32-36).
3.
Diferentemente
do que propunha a visão judaica centrada no templo, manutenção da estrutura e o
suprimento dos levitas (sacerdotes e outros serviçais da estrutura), o NT
prioriza a identificação e suprimento de necessidades pessoais.
Havia um claro senso de comunidade e comprometimento uns com os outros. O foco
era o relacionamento com Deus e as pessoas, e isso se dava de muitas maneiras,
entre as quais se destacava a ajuda mutua: “Ninguém
considerava unicamente sua nenhuma das coisas que possuísse, mas compartilhavam
tudo o que tinham” (At 4.32). O
desapego às coisas impulsionava o pleno exercício da misericórdia entre os
irmãos.
Notamos
claramente que o ter não era condenado, contato que as pessoas soubessem
administrar suas posses em favor do suprimento dos menos favorecidos, como as
viúvas e os órfãos.
Vale
a pena dar uma olhada com atenção nas palavras de Paulo (ver 2 Co 8.1-9.5)
demonstrando a maneira como os cristãos se manifestavam generosamente em
relação aos apelos por contribuições para socorrer irmãos e comunidades necessitadas.
Quando
necessidades pessoais são identificadas nos cabe agir no sentido de cooperar
voluntariamente: “Cada um dê conforme
determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem
dá com alegria” (2 Co 9.7).
4.
Outro
aspecto que merece destaque é o comprometimento coletivo diante das necessidades.
Isso é próprio da Igreja, quando a mesma se manifesta ao mundo, sem depender
das regras impostas pelas instituições religiosas. Devemos compreender que o
fato de sermos cristãos nos torna corresponsáveis diante das questões
relacionadas ao Corpo e seus membros (ver 1 Co 12.12-30). Se alguém estiver
“sofrendo” e não nos manifestarmos a fim de ajudar, demonstraremos atitude
desconexa com as bases do verdadeiro cristianismo.
O
simples fato de compreendermos corretamente e não nos submetermos a pratica dos
“dízimos”, não pode ser em hipótese alguma, desculpa para a falta de atitude
diante de necessidades reaias reconhecidas individual ou coletivamente. O NT
nos coloca diante de responsabilidade muito maior do que a imposta pela antiga
aliança. Agora, não basta o “simples” e institucional 10%. Somos chamados à
adoração com tudo o que estiver em nossas mãos, usando como instrumento para
glorificar a Deus por meio da generosidade.
5.
Nosso
entendimento a respeito desta importante e tão polemica temática deve
considerar as palavras de Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de
um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis
servir a Deus e às riquezas” (Mt
6.24). O mestre fez questão de enfatizar o poder inerente às coisas materiais,
e como as mesmas podem exercer domínio sobre nós.
As
riquezas (bens materiais) se constituem um poder capaz de atrair a devoção
completa por parte daqueles que por elas se deixam dissuadir. Suas estratégias
são as mais atraentes possíveis, focadas na satisfação dos desejos imediatos e
garantias transitórias. As evidencias dessa triste realidade estão por toda
parte, inclusive no meio religioso evangélico onde ecoam apelos desenfreados
pelo “ter”, “conquistar”, “prosperar”, e coisas do tipo. Os propagadores dessa
mensagem, não apenas se deixaram dominar por “Mamom”, como instigam outros a
fazerem o mesmo.
A verdade é que há uma estrutura
montada, e esta depende quase que totalmente das contribuições financeiras para
sua manutenção. Sendo assim, parece não restar outra alternativa aos lideres
religiosos, a não ser aceitarem a proposta de “Mamom”, e automaticamente (mesmo
afirmando o contrario) aborrecerem a Deus.
Voltemos ao evangelho! Aceitemos o
convite que ele nos faz para sermos apenas e tão somente Igreja de Jesus
Cristo! Ela não necessita das roupagens institucionais, do apego ao
materialismo, de homens dominando homens, etc.
Voltemos à simples convivência em torno
da Palavra, oração e comunhão! Que nossos encontros sejam parar comungar com
Deus e uns com os outros, conforme o Espírito nos orientar. Isso basta!
Aos que tentam andar no caminho do
evangelho, como eu.
Riva