"A vida cristã não é resultado da escolha do cristão, e sim sua resposta ao fato de que Deus o escolheu" (James M. Houston)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

IGREJA, ORGANISMO RELACIONAL parte 3 - Riva


A MANIFESTAÇÃO RELACIONAL DO ORGANISMO PARA COM O HUMANO

(Atos 2.42-47)

Na caminhada diária da igreja orgânica a relação com o divino não é uma via de mão única, pois não se trata apenas da observância das questões acima descritas. Além destas, há elementos que descrevem nossa relação interpessoal, a vida comunitária ao lado dos demais membros do Corpo.
Notemos com atenção algumas expressões da forte relação entre os cristãos da igreja primitiva:

“Perseveravam na comunhão” (v. 42). A comunhão para eles não era o resultado de nenhuma programação ou evento, mas sim, a consequência natural da convivência que tinham uns com os outros. Era fruto do amor de Deus, derramado em seus corações por meio do Espírito Santo (ver Rm 5.8). O próprio texto nos mostra como essa comunhão se expressava entre eles. “Todos os que creram estavam juntos” (v. 44). Quando temos afinidade uns com os outros é natural desejarmos e nos esforçarmos para estar juntos. A convivência é algo natural entre os membros da Igreja Corpo de Cristo.

Infelizmente a visão institucionalizada da igreja tem gerado sérios transtornos à relação interpessoal entre os cristãos. Isso porque nesta esfera pessoas passam a ser números, freqüentadores e possíveis contribuintes, mas raramente são conhecidas e tratadas como sacerdotes (universal), pessoas dotadas de dons e, portanto, aptas para compartilhar com os demais. “Tinham tudo em comum” (v. 44). Eles tinham um senso de comunhão que ia muito além do estar juntos. Os cristãos da igreja primitiva se comprometiam de tal forma uns com os outros, a ponto de expressarem cuidado, uns para os outros (v. 45). Havia entre ele disposição para partilhar seus bens, a fim de todos serem supridos em suas necessidades básicas. Podemos dizer que entre eles se manifestava o verdadeiro amor cristão.

Que coisa maravilhosa! Como se isso não fosse suficiente para nos convencer do fato de que a igreja que Deus deseja que sejamos e vivenciemos é esta expressão de um organismo vivo com sua dupla relação: buscando o divino e o humano concomitantemente; o essa passagem ainda nos apresenta sinais claros e incontestáveis da benção divina, sendo manifestada entre aqueles irmãos. Observemos algumas:

“Em cada alma havia temor” (v. 43). Quando há harmonia na existência orgânica da igreja, seus membros compreendem e se submetem respeitosamente, sem reservas ao senhorio de Cristo. Eles respeitavam a Deus, respeitando uns aos outros e vivendo como verdadeiros irmãos e membros do Corpo. Talvez, a falta de temor em nossos dias reflita nossa inclinação para um viver desconexo com o padrão estabelecido por Cristo para Sua Igreja. Quem sabe estejamos temendo mais as instituições humanas, as autoridades humanas, as construções humanas; do que a Pessoa de Cristo. Penso que, se houver temor em cada alma, viveremos como verdadeira Igreja de Cristo, um organismo relacional.

“Muitos sinais e prodígios eram feitos por intermédio dos apóstolos” (v.43). Sinais e prodígios, duas coisas que atraem a atenção de uma parcela expressiva dos cristãos, principalmente aqueles da linha carismática. Na prática isso é visível com surgimento de ministérios que até parecem deter certa exclusividade para operar tais sinais. Como nos dias de Jesus, muitos “buscam sinais”. O que me chama atenção nesse relato dos primeiros movimentos da igreja primitiva é a naturalidade com que os sinais ocorriam, e como eles (principalmente os apóstolos) encaravam os mesmos. Não era comum entre eles a super valorização dos sinais e milagres. Não encontramos nenhum tipo de propaganda baseada nos mesmos. Os apóstolos não se consideravam mais “ungidos” por terem realizado algum sinal, mas ao contrário, deixavam claro que aquilo era fruto da manifestação do poder divino (ver At 3.11-16).

Se crermos, de fato na soberania divina, e nos sujeitamos a ela, não podemos negar que o Senhor poder realizar qualquer sinal ou prodígio, segundo sua vontade. Era assim que os primeiros cristãos encaravam tal fato. Isso não pode ser uma ferramenta de marketing, nem uma coisa assustadora, mas algo plenamente administrável pelo Deus soberano.

“Contando com a simpatia de todo o povo” (v. 47). Uma igreja simpática. Como isso era possível? Vejo aqui, mais um sinal visível da graça divina sendo ministrada por meio daquele organismo relacional. Eles não se tornaram simpáticos pelo fato de não terem expressado sua fé, e pensamentos com clareza; mas acredito que o grande diferencial aqui, foi à maneira como eles se relacionavam uns com os outros. Eles não se afastaram dos seus contextos, nem dos seus familiares, antes expressavam o amor de Cristo a eles.

“Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (v. 47). Este é outro ponto bastante destacado entre os cristãos em todos os tempos. Não são poucos os que buscam a todo custo o “crescimento” da igreja, mesmo sem avaliar muitos dos métodos utilizados para tal. Olhando para igreja primitiva, que método de crescimento eles utilizaram? De onde veio tal crescimento numérico? Parece que as respostas são óbvias: Eles apenas se relacionavam com Deus e um com os outros, e “enquanto isso”, as pessoas eram salvas.

Nunca é demais salientar que a salvação sempre é operada por meio da graça divina, mediante a fé (ver Ef 2.8, 9). Cabe à Igreja a missão de propagar a mensagem do Evangelho, mas não lhe diz respeito à tarefa de convencer as pessoas. Portanto, devemos testemunhar de Cristo, sem reservas, sobretudo com nosso estilo de vida genuinamente cristão.

Meu sincero desejo é que vivamos como organismo relacional para que em todas as coisas o nome de Cristo seja glorificado. É momento de repensarmos nossa postura, a fim de não nos tornarmos uma estrutura engessada pelos vários sistemas humanos. Seja Igreja, como a Igreja deve ser!

Beijo na Testa!
Riva dos Santos

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